Updates from Setembro, 2013 Toggle Comment Threads | Atalhos de teclado

  • nunorosmaninho 13:53 on 26/09/2013 Permalink | Responder  

    Dois pobres romanos – Mira-Cantanhede, 22 de Setembro de 2013 

    O indómito Alcédix vai melhorando da queda da semana passada, mas ainda não pode regressar às viagens cíclicas. Deixou porém dois conterrâneos, cidadãos da mesma aldeia, que se divertiram a desancar um par de pobres romanos que lhes apareceu pela frente. Da Mata a Mira, de Mira a Cantanhede e daqui até às Sete Fontes, os já nossos conhecidos Informatix e Periglicofilix deram sempre com força, Na primeira etapa, Paulinhus e Escrivanus responderam com força, na segunda com empenho e na terceira com cansaço. Chegado a Sepins, Paulinhus deu graças a Júpiter por estar em casa e o Escrivanus lamentou não ser seu vizinho. Dizem que estava calor.

     
  • nunorosmaninho 17:31 on 21/09/2013 Permalink | Responder  

    O indómito gaulês – Febres, 15 de Setembro de 2013 

                Os venerados leitores conhecem Astérix, de bigode farto, baixo, enérgico, impulsivo, o terror dos romanos? Há semanas, baixou da Gália aos pâmpanos da Bairrada e trouxe uma bicicleta. Encobriu-se com o nome de Alcides e prometeu entrar nas viagens de domingo. Uma vez o disse, segunda vez o repetiu, terceira voltou a prometer e à quarta apresentou-se em casa do Lenhador. A máscara caiu-lhe ainda antes de Covão do Lobo quando saiu da retranca do pelotão e, com a sua legendária bravura, se distanciou dos outros cinco atónitos ciclistas. Organizada a resposta, foi a fuga anulada. E mal o reagrupamento se concluíra, o valente gaulês, ainda distraído pelo vigor da acção, manifestou um desequilíbrio ligeiro, a mão direita escorregou do ombro do Lenhador e, a mais de trinta por hora, a queda foi dura e dolorosa, o antebraço raspando longamente pelo asfalto. Acudiu o Patrocinador, na pessoa do Fernando Manuel, que em vinte minutos o recolheu e conduziu ao hospital. No acto de estancar o sangramento, um relance detectou no pneu traseiro do Periglicófilo um tal estado de exaustou que a cautela o obrigou a recolher a casa na mesma boleia.

                Os quatro atletas restantes deram meia volta, o que com o Paulinho significa sempre ir a Cantanhede para evitar as ladeiras mortificantes. Na rotunda seguinte ao local do acidente, viraram à esquerda para Febres, e prosseguiram por caminhos pouco habituais. O Informático e o Escrivão ainda passaram pelo Patrocinador à procura de novidades que só chegaram depois da uma da tarde. O Informático, aparentado com o arrojado gaulês, confirmou a rijeza da raça, que doze pontos não abalaram:

    – O homem já está em casa a comer e bem-disposto.

    O Informático só não disse se o almoço era javali e se Obélix estava presente.

    Ainda se lembram do padre que comia ameixas? O Paulinho pede para acrescentar que o mesmo pastor, noutra procissão, abandonou a ordem ritual para repreender um automobilista que, tendo parado para deixar passar o cortejo, manteve o motor a trabalhar. Parece que o ruído incomodava mais que a quebra do protocolo.

     
  • nunorosmaninho 13:50 on 10/09/2013 Permalink | Responder  

    O caso do padre que comia ameixas – Mira, 8 de Setembro de 2013 

    Quando quatro homens, ciclistas, saem da Mata, pedalam até à formosa esplanada de Portomar, se sentam na sombra fresca da manhã e se põem a conversar, falam de quê? Padres, claro. O tempo esteve fresco e sem vento. A ficha da primeira parte do percurso, registada pelo Tó, mostrou muitos troços acima dos 29, 30 e 31 quilómetros por hora. Não há só fraqueza nas viagens cíclicas.

    Na qualidade de testemunha qualificada, o Paulo marrou com minúcias pitorescas o múnus evangélico do sacerdote que o apascenta. Recostado, sorriso sardónico, descreveu-o na liturgia a tocar a bola com uma criança enquanto um leigo procedia à leitura do Evangelho. O assunto foi discutido com paixão. Devia o padre ter retribuído o passe? O Escrivão achava que não.

    Há muitas décadas, quando os conflitos religiosos abalavam o País e a própria Bairrada (sim, isso já aconteceu até ao uso de violência), o padre Abel Condesso saiu de uma procissão para tirar o chapéu a alguém que ousou mantê-lo à passagem do cortejo. Os tempos passam, os tempos mudam. Sessenta anos decorridos, restaurado o respeito pela Santa Madre Igreja, um novo tipo de padre surgiu, mais familiar e descontraído. Segue pelas aldeias coberto pelo pálio, confortado pela população, alegre pela música. Olha em volta, seguro de si e das coisas.

    Pois ia o Paulo na procissão e muita gente com ele. No passo lento do cortejo, vê-se adiante uma árvore esplendorosa, carregada de frutos. Uma ameixoeira. O Paulinho não disse se as capitosas ameixas eram vermelhas, nem aludiu ao perfume que se desprendia dessa natureza paradisíaca. Em câmara lenta, as ameixas foram-se aproximando, o padre foi-se deixando absorver pelos sentidos, lembrou-se da fome, imaginou a polpa suculenta desfazendo-se na boca. E foi então. O padre saiu da ordem ritual da procissão, chegou-se à berma onde as ameixas pendiam, colheu o fruto eleito e regressou ao halo abençoado do pálio. Aqui, feliz pelo mundo, mordeu a ameixa uma vez e outra vez, roeu-a até ao âmago já levemente amargo e, definitivamente feliz, retirou o caroço da boca, segurou-o na ponta dos dedos e, com um movimento automático, lançou-o para trás das costas. Tenho muita pena que não tivesse dito:

    – Tomai e comei todos.

    Os compromissos autárquicos roubaram-nos o António, que foi biciclar atrás dos votos, e apressaram o Rui para escutar o professor Martelo. O Zé Luís também se deslocou à homilia autárquica. O Tó foi festejar o aniversário paterno. Saúde! E ameixas.

     
  • nunorosmaninho 11:09 on 03/09/2013 Permalink | Responder  

    O Escrivão no labirinto – Mira e Cantanhede, 1 de Setembro de 2013 

    Serve este título para voltar atrás e acusar o Escrivão de negligência ciclística e injúrias à polícia. Todos repararam que ele andou desaparecido. No segundo domingo de Agosto, foi ao encontro do longínquo leitor embora tenha ficado muito aquém das estepes extremas da Ásia. No terceiro, partiu para a Figueira da Foz com um leitão do Patrocinador na bagageira. No quarto, querendo reeditar a façanha do leitão, viu-se a lançar imprecações à polícia e às bicicletas! É deste caso insólito que trata, antes de mais, este longo e inusitado texto. A manhã ia quase a meio. O Escrivão não sabia, mas na Curia já começara o campeonato nacional de ciclismo das camadas jovens. Ali no Café D. João, deparou-se com barreiras na estrada e um guarda, o primeiro, que o sossegou:

    – Quer ir comprar o jornal? Pode virar à direita e seguir pelo atalho até ao Hotel Boavista*.

    E o Escrivão assim fez. Só que na Mata o acesso estava barrado. Parece que o circuito era maior que o das últimas provas. Uma pessoa conhecida e respeitadora veio em seu auxílio:

    – Ó senhor Escrivão, por aqui não passa. Tem de ir a Óis.

    E o Escrivão foi. Encontrou outras grades e um segundo guarda que apitava desaustinadamente (talvez aflito, talvez encarnando a Ordem) e o mandou para Horta. O Escrivão obedeceu. Andou os quilómetros precisos até achar o terceiro guarda que, a custo, lhe permitiu dirigir-se a Tamengos, onde por força tinha que chegar. Mas ainda Horta não tinha terminado, e todos sabem que não é uma grande cidade, e já um quarto guarda o interpelava com brusquidão, zangado com a presença de um automóvel naquela estrada:

    – Por aqui não passa!

    E aí o cordato Escrivão, respeitador da bicicleta e da ordem, assanhou-se, pôs a cabeça fora do carro, discutiu, contestou, rebateu, mas não passou. Estava num labirinto. Deslizou quatrocentos metros como um bote na pacatez de lago ou de uma barra fechada. Eram onze horas. Emergiu o quinto guarda, que disse muito tranquilo:

    – Não pode passar!

    E o Escrivão, colando-se àquela placidez que parecia vir do calor, retorquiu:

    – Então vou para onde, se em lado nenhum me deixam passar?

    – Não sei. Fica aí até ao fim da corrida, às doze e meia. Vê ali aquela senhora? – E apontou para uma jovem que caminhava. – Trabalha no Grande Hotel da Curia e tem de seguir a pé.

    – Mas eu vou para a Figueira da Foz!

    – Compreendo. São ordens que tenho.

    Ora, o Escrivão faltara à viagem cíclica para estar às treze horas na Praia da Claridade! Durante cinco minutos, protestou e reflectiu, reflectiu e protestou. Sem saber bem o que fazer, empreendeu a rota da Mata (lá ia a senhora para o trabalho) à espera de ser parado por um sexto guarda. Ei-lo na ladeira do Cabo! O Escrivão, para não afastar boas vontades, dirigiu-se-lhe com finura:

    – Ó senhor Guarda, ajude-me a chegar a Tamengos.

    Tão simples foi o pedido, tão quieto era o sítio, tão amena a autoridade, que o guarda o mandou logo atrás do carro da vassoura, que agora se chama ambulância. O encanto do Escrivão ao assentar os pés no adro da igreja de Tamengos não foi maior porque era evidente que permanecia no labirinto. Chegou a Tamengos, mas não conseguia sair de lá. Já com o carro lotado, deixou-se ficar a resmungar. Todas as saídas estavam cerradas.

    – Só nos resta o Freixal.

    Os senhores e as senhoras sabem o que é o «Freixal»? Terras baixas de cultivo, alagadiças, onde se diz que há raposas e por onde em tempos se pensou que vagueavam crocodilos. Não estou zombando. Veio nos jornais. Pois esse lugar, que a natureza anda pacientemente a retomar há vinte anos ocupando o que já foi vinha, horta e milheirais, tem a servi-lo um extenso caminho de terra batida por onde um automóvel passa devagar e com espanto. Nem aventura, nem medo: estranheza. Quilómetros de súbito isolamento até chegar aos Cabeços, a Vila Boa e à Ribeira de Ventosa, a «santa terrinha» da minha avó. Um magnífico percurso para os colegas de BTT, sem guardas e sem barreiras.

    E foi assim, desta forma improvável, que o Escrivão maldisse a polícia e o ciclismo mas conseguiu cumprir o leitão. Melhor teria sido pegar na bicicleta e ir nela para a Figueira. Com esse treino, não teria sofrido com o Paulinho as agruras de um regresso à actividade na viagem de hoje. Falo do Paulinho, porque o Rui não pára. Até Portomar, com vento favorável, foram cantando e rindo. Depois, na rotunda de Mira, ajudaram um companheiro que, na berma, substituía uma câmara-de-ar e que, querendo ir para o Mamodeiro, seguiu com eles para Cantanhede. Não era um modelo de equilíbrio, mas enfrentou com tenacidade o vento contrário. À medida que o calor aumentava, a força ia-se dissipando. Em Cantanhede, a água fresca operou milagres. No entanto, Sepins foi a verdadeira Terra Prometida do Paulinho. E a Curia a do Escrivão.

     
    • Graça Matos 22:26 on 03/09/2013 Permalink | Responder

      Nuno/Escrivão,
      Adorei o teu percurso domingueiro e a estreita cavaqueira encetada com a polícia. Realmente para a próxima considera a possibilidade de levares a bicicleta. Decerto evitas um percurso tão labiríntico, mas jamais tão sui generis.

    • nunorosmaninho 13:47 on 10/09/2013 Permalink | Responder

      O Escrivão agradece e assevera que apenas fez a acta do incidente.

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