Updates from Julho, 2014 Toggle Comment Threads | Atalhos de teclado

  • nunorosmaninho 13:16 on 31/07/2014 Permalink | Responder  

    Serafinada 

    VozDesportiva39_6Agosto1927_p3_014Lembram-se das «serafinadas» na «Voz Desportiva» de Coimbra? Claro que não. Apenas lhes fizemos uma alusão quando Serafim Silva realizou um desenho de Aníbal Carreto. Acontece que a vitória de Manuel Alves Pires na prova Mealhada-Porto-Mealhada mereceu uma alegre «serafinada» composta por versos e um desenho. Não se compreende tudo. Não sei quem é o «primo», nem de onde vem a discussão. «P’ro» é «para o» ou «por o»? Isso muda tudo.

     
  • nunorosmaninho 15:01 on 30/07/2014 Permalink | Responder  

    …Manuel Alves Pires! 

    Os três ciclistas chegaram juntos ao Porto. Faltava o regresso à Mealhada. Continuamos a seguir J. Branquinho de Carvalho.
    «Carreto sai à frente seguido de Pires e Ferreira; este, devido talvez ao esforço que fez para acompanhar os dois consagrados corredores, ressente-se um pouco e fica para trás.
    Após a saída do Porto, Carreto e Pires começam travando uma luta emocionante, pretendendo mutuamente escapar-se, o que, porém, lhes é impossível porque qualquer deles não deixa fugir o outro.
    E a luta prossegue assim, abrandando novamente na estrada má até Azeméis. Entretanto José Ferreira, refeito, volta a aparecer, pedalando perto dos favoritos da corrida.
    Passada Oliveira de Azeméis, Ferreira volta a atrasar-se, ficando desta vez bastante para trás e por muito tempo.
    A luta continua agora cada vez mais encarniçada. Conjectura-se que Ferreira não volta a aparecer junto dos companheiros.
    Mas a sua valentia não consente tal, e ao aproximar-se da Mealhada, já para cá da Malaposta, Ferreira é avistado um pouco distante, mas pedalando vigorosamente; já depois da direcção da Curia, consegue finalmente colar-se um pouco na retaguarda, não mais largando o pelotão, que, prestes a atingir a recta, avança numa corrida verdadeiramente estupenda, depois de quase duzentos quilómetros percorridos.
    Entram por fim os corredores na vila da Mealhada, conservando Carreto ainda o lugar da frente, até que Pires, numa embalagem formidável, como raramente se tem ocasião de ver, consegue passar Carreto, que, num dado momento se vê colocado em último lugar, pois que Ferreira embala ao mesmo tempo que Pires e pedala durante uns segundo no segundo lugar.
    Carreto, num assomo de grande energia, lança-se numa corrida vertiginosa, passa Ferreira, mas não consegue já mais que cortar a meta em segundo lugar. Pires, por uma diferença de um segundo e meio, acabava de ganhar a Taça Mealhada e o primeiro prémio, no meio de uma colossal ovação dos milhares de espectadores.
    Estava terminada a maior prova da Bairrada e talvez aquela em que os corredores fizeram a luta mais renhida da sua vida ciclista.
    Saudando, pois, o União pela grande vitória alcançada pelo bravo corredor Alves Pires e pelo esforço do terceiro classificado, um novo que fica já bem entre os consagrados, não podemos deixar de saudar também o Sport e Carreto, porque, embora vencido na luta tão lealmente travada, foi o grande corredor de sempre.
    Alves Pires fez a prova em 8 horas, 18 minutos e 28 segundos; Carreto em 8 horas, 18 minutos e 29 segundos e meio; Ferreira em 8 horas, 18 minutos e 31 segundos.»

     
  • nunorosmaninho 09:59 on 30/07/2014 Permalink | Responder  

    E o vencedor é… 

    A descrição de J. Branquinho de Carvalho é precisa e exaltante. Primorosa. Segue toda a corrida, aponta os momentos cruciais, dá o tom certo à disputa que me devotei ilustrar nestas viagens cíclicas. Não tendo escrito a peça que se segue, encanto-me a transcrevê-la. Vamos aos factos.
    «Os organizadores da maior corrida de bicicletas que na Bairrada até hoje tem sido disputada, mereciam, por todos os motivos, desde o valor da taça em disputa, à organização, que, sem desprimor para as diversas organizações de outras localidades, pode dizer que foi perfeita, mereciam, dizemos, que um maior número de concorrentes tomasse parte em tão importante prova.
    Mas, se é certo que se tem corrido mais alguém dos “ases” de Lisboa ou Porto, a corrida se animaria mais um pouco, é também certo que ela não podia ser mais rijamente disputada, nem com maior brilho e entusiasmo.
    Inscreveram-se Manuel Alves Pires e José Ferreira, pelo União FCC, e Aníbal Rodrigues de Almeida (Carreto) e Celestino Parente, pelo Sport CC, tendo este último faltado à chamada, pelo que, pelas nove horas e um quarto, partiram os restantes corredores em direcção à cidade invicta.
    Atrás dos corredores seguem os carros de apoio dos dois clubes conimbricenses, com os respectivos delegados da comissão organizadora da corrida.
    Logo de entrada os três corredores, em linha, começam pedalando com grande velocidade, fazendo, até Oliveira de Azeméis, uma média superior ao que era de esperar, se atendermos à distância a percorrer.
    Daqui por diante, até perto do Porto, e devido à estrada que está em reconstrução ou em vias de reconstrução, a velocidade abrandou um pouco.
    Até à chegada ao Porto, os corredores seguiram sempre num pelotão, quase sempre com Carreto à frente. Um pouco antes dos Carvalhos, José Ferreira foi de encontro a um poste telegráfico, caindo, e fazendo com que Carreto desse também uma grande queda, que, felizmente não teve consequências de maior.
    Às 13 horas, 37 minutos e 40 segundos chegaram os corredores à Praça da Batalha, onde os aguardava a Delegação da União Velocipédica Portuguesa do Porto, iniciando logo em seguida o regresso à Mealhada.»

     
  • nunorosmaninho 11:11 on 29/07/2014 Permalink | Responder  

    Mealhada, segunda-feira, 1 de Agosto de 1927 

    Na grande corrida Mealhada-Porto-Mealhada jogava-se a rivalidade Sport – União, a emulação entre Carreto e Pires, a fogosidade dos novos contra os consagrados, a tenacidade perante duzentos quilómetros por estradas talvez macadamizadas. O regulamento ameaçava com o tempo máximo de dez horas e oferecia uma «valiosa taça», «medalhas de ouro e prata aos vencedores» e, para todos os ciclistas, uma entrada gratuita na tourada que se realizaria depois da corrida. Esperavam-se muitos corredores, mas por fim inscreveram-se quatro, os mesmos de Cantanhede: Pires, Carreto, Ferreira e Parente. Outra vez o Sport contra o União. No regresso, de Águeda à Mealhada, estiveram milhares de pessoas incitando os seus atletas favoritos. «A apoteose feita ao vencedor, no momento e depois de cortar a meta, foi simplesmente colossal, atingindo o delírio.» Nem eu nem o Anastácio pudemos acompanhar os ciclistas na sua longa jornada. Por isso, pedi a J. Branquinho de Carvalho que nos fizesse um breve relato. É o que daremos amanhã, se ao leitor não faltar a paciência para nos seguir.

     
  • nunorosmaninho 10:27 on 28/07/2014 Permalink | Responder  

    Taça Marquês de Marialvas 

    É possível que a prova de Arcos tenha acicatado o projecto similar da Mealhada. No meio de corridas de média dimensão, um trajecto de duzentos quilómetros equivalia ao máximo que alguma vez se organizara na Bairrada. A Taça Mealhada haveria de coincidir com as festas em honra de Sant’Ana, no início de Agosto. Antes disso, porém, provando a força das rivalidades desportivas, disputou-se em Cantanhede a Taça Marquês de Marialvas. Quatro atletas, 130 quilómetros. Os ases Carreto e Pires e os novos José Ferreira e Celestino Parente. O União de Coimbra e o Sport Conimbricense. Ganharam os novos: Ferreira em primeiro, Parente em segundo, Pires em terceiro e Carreto em quarto. E na Mealhada, como seria?

     
  • nunorosmaninho 17:16 on 27/07/2014 Permalink | Responder  

    O regresso do Telmo – Cantanhede, 27 de Julho de 2014 

    Fechadas as aulas, entregue a dissertação, marcadas as provas, o Telmo voltou hoje às lides ciclísticas com a promessa de regressar no próximo domingo. Não houve motas para perseguir. A viagem fez-se plácida, tranquila, muito conversada. O Lenhador aplaudiu. O Rúben lamentou com discrição e foi incitado a sprintar, o que fez várias vezes, acabando, já no fim, por se distanciar irremediavelmente até casa. Atrás dele, apressaram-se o Paulinho e o António, sobretudo após a Fonte Errada. Mas até as acelerações eram inconsequentes, mero fogo-de-vista, um ritual de pura recreação. O Escrivão, preso por dois dias ao lirismo da arte portuguesa, queria sossego e descidas aprazíveis, como a de Sepins para Ventosa, feita na variante de abdominais sentados. As natas de Cantanhede foram muito elogiadas. Infelizmente, o Informático não as pôde provar. Às nove horas, estando pronto para sair, teve de corresponder a um trabalho emergente. O Periglicófilo, ausente no Porto, gozou o repouso merecido pela jornada de sexta-feira.

     
  • nunorosmaninho 15:55 on 27/07/2014 Permalink | Responder  

    Pires vence a corrida Arcos-Porto-Arcos 

    A corrida fez-se, supervisionada pelo senhor Galinha, controlada em Oliveira de Azeméis e Porto, aplaudida por muito público e «rijamente disputada» pelos dois ciclistas durante sete horas e quarenta e sete minutos. Neste tempo, os amadores podiam juntar-se aos ases e acompanhá-los como uma guarda de honra. Em Águeda, formou-se um verdadeiro cortejo de ciclistas e automóveis, Manuel Alves Pires, que chegara ao Porto com uma roda de diferença, ganhou em Arcos de Anadia com apenas um segundo de avanço. José Ferreira mereceu os maiores encómios. O regulamento previa uma taça para quem vencesse dois anos consecutivos ou três intercalados, mas creio que nunca mais se realizou. Para colmatar o relativo insucesso da primeira edição, a organização marcou uma nova prova para a semana seguinte. Não houve concorrentes. Talvez porque já se anunciava uma febricitante Mealhada-Porto-Mealhada com o Pires, o Carreto e o Ferreira.

     
  • nunorosmaninho 16:11 on 25/07/2014 Permalink | Responder  

    E a Figueira da Foz aqui tão perto 

    Estava o Escrivão às voltas com o lirismo da arte portuguesa quando recebeu uma mensagem do Periglicófilo. Nos tempos remotos de 1985, ambos chegavam à Figueira da Foz em menos de duas horas e isso parecia excessivo para as pobres forças actuais. Hoje, o Periglicófilo lançou-se ao caminho, comeu a sagrada nata de Portomar e duas horas e quinze minutos depois estava na Praia da Claridade! Nos próximos dias, ainda acabará por recuar trinta anos exactos, minuto por minuto. É provável que nessa ocasião o Escrivão abra a boca de espanto, tal como lhe aconteceu anteontem na variante de Sangalhos. Dois ciclistas que disputam o campeonato da Europa de pista coberta, protegidos embora por uma carrinha, aceleraram no plano até aos oitenta quilómetros por hora. Digno de se ver!

     
  • nunorosmaninho 14:43 on 25/07/2014 Permalink | Responder  

    Apenas dois atletas 

    Quando chegámos a Arcos no dia 3 de Julho de 1927, notámos uma insanável desproporção entre o número de pessoas que assistia ao início da corrida e os atletas que se preparavam para correr. Lendo A Voz Desportiva da véspera, convencemo-nos de que só havia quatro inscritos. Mas isso traduzia um olhar conimbricense. Afinal, havia mais inscrições. Sem dúvida que havia. À partida, porém, só se apresentaram dois ciclistas: o Pires e o Ferreira, do União de Coimbra.
    – Ora esta! – Concluiu logo o Anastácio. – Vai-se a ver e nem quatro são.
    Dei-lhe razão.
    – Se ao menos fosse uma disputa Pires-Carreto…
    Uns ciclistas faltaram por «motivos imprevistos», outros porque foram desviados para diversas provas tuteladas pela União Velocipédica Portuguesa. Este último facto era um insistente motivo de conversa. Ouviam-se críticas. J. Branquinho de Carvalho dizia que o procedimento da UVP descredibilizava o ciclismo. Na sua opinião, a presente prova «devia merecer maior respeito à UVP, porquanto a Bairrada é, por assim dizer, o berço dos melhores ases do pedal». «Mas», insistia ele, «esta afirmação engasga muita gente e por isso para a menosprezar vá de consentir noutras corridas.»
    – A prova faz-se? – Perguntei ao senhor Galinha, delegado da comissão organizadora que devia acompanhar os ciclistas.
    – Claro que sim! Temos corredores, público e entusiasmo! Não falta nada.

     
  • ruigodinho1962 00:07 on 23/07/2014 Permalink | Responder  

    Lone Ranger – O Cavaleiro Solitário (4) 

    Eis então a tal dita cuja subida! Cerca de 25 km de pedalada constante, à excepção do oásis de S. João do Monte, onde umas escassas centenas de metros de plano sabem a paraíso!

    Quem anda na estrada sabe ou imagina o que seria ir da Curia a Coimbra sempre a subir. É duro, é verdade! Não se pode mesmo deixar de pedalar um segundo, como é evidente. A subida não é muito inclinada, mas a sua teimosia mata pela saturação. Contudo, todos os que a conhecemos encaramo-la com muito respeito, mas também com o maior dos gostos, porque acaba por se tornar uma subida dócil, pachorrenta.

    Os desníveis mais acentuados só aparecem perto do fim. Poderão alguns alegar que aí já estamos mesmo saturados de tanto quilómetro a subir; contraponho que aí já habituámos as pernas de tal forma ao esforço que nos sentimos verdadeiros homens-aranha, capazes de escalar paredes com a bicicleta!

    Depois é todo o enquadramento que nos rejuvenesce a alma.

    Vales mais ou menos profundos, que nos permitem ir verificando quanto já subimos.

    Encostas bem verdes, mas de uma verdura heterogénea, mescla do mais variado folheado das árvores.

    Os vários sons da Natureza: pequenos cursos de água, que transmitem uma sensação ainda maior de frescura ao percurso; chilreados despreocupados mas harmonizados com a paisagem; por vezes, o bulir de uma brisa nas folhas mais próximas.

    Por isso, mais do que o cansaço ou a saturação, esses quilómetros são saboreados metro a metro, guloseima que temos que resistir à tentação de engolir com avidez. É quase como quando o nosso horário lectivo termina a semana no último tempo de 6ª-feira: desejamos que ele chegue e termine, mas depois parece que nos falta a pressa para sair da escola! Tenho para mim que essa é uma forma disfarçada de prolongarmos a agradável sensação de entrarmos em fim de semana! Da mesma forma, quando atingimos o topo da subida sentimos uma alegria esfuziante, um alívio profundo nas pernas, mas também que terminou a nossa fonte de prazer!

    Naturalmente que, como o povo costuma dizer, não há bela sem senão. E a subida do Caramulo também tem os seus monstrinhos… Veremos quais.

     
    • nunorosmaninho 10:36 on 23/07/2014 Permalink | Responder

      Conclusão: a subida do Caramulo é boa por ser difícil. Estes ciclistas são doidos!

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