Updates from Setembro, 2020 Toggle Comment Threads | Atalhos de teclado

  • nunorosmaninho 14:02 on 29/09/2020 Permalink | Responder  

    Viagem gritada – Praia de Mira, 27 de Setembro de 2020 

                Esta viagem segue sem ilustração, porque não posso usar o desenho que Fred Kradolfer produziu para um almanaque. O seu ingénito impulso modernista levou-o a cruzar três homens de preto, que sopram palavras bem desenhadas em megafones. Juntas, dão o seguinte reclame: «Todas as gravuras da Ilustração são feitas na casa Bertrand Irmãos, L.da». Não pensei nessas figuras durante a volta de bicicleta, mas apenas agora, que tenho de a descrever. Então, limitei-me a verificar que estava a ser uma manhã muito gritada. O melhor é resumir as exclamações. Primeiro, na esplanada de Portomar:

                – Vamos a Fátima no domingo? É para ir e voltar. Vou-te buscar a casa.

                – Eh, pá! Tens a roda furada.

    – Não tenho nada. És um brincalhão…

    – Tens, tens!

    – Espera, que eu tenho luvas.

    – Não é preciso.

    – Tens câmara-de-ar? E desmontadores? Bomba?

    – Vê se o pneu tem algum problema.

    – Eu acho que está a ficar passado.

    \– Qual passado?! Passado estás tu! Devias ter trocado os pneus. Enche aí um pouco a câmara.

    – Porque é que estás a tirar a câmara? Já estava toda posta!

    – Pronto, trabalha tu! Ao menos ao fim-de-semana…

    Nas proximidades da Praia de Mira:

    – Onde está o Periglicófilo? Ele vinha aí. Será que furou? Vamos ver.

    – Não está em lado nenhum! Queres ver que foi por outra estrada! Telefona-lhe.

    Na Praia de Mira:

    – Eh, pá! Vocês iam brutos. Segui em frente para nos encontrarmos na praia.

    – Nunca se muda de trajecto! Não é assim? E, agora, por onde vamos?

    – Convinha-me chegar a casa pouco depois do meio-dia.

    – Vamos até ao Poço da Cruz e cortamos para a rotunda grande, na E109.

    Na estrada da floresta, depois de uns bons dez minutos entre 32 e 37 quilómetros por hora:

    – Por mim, chega – disse eu.

    – Vou outra vez para a frente – diz o Paulinho. – Vai bem assim?

    – Sim – disse eu, quando íamos a 32.

    A velocidade regressou aos 35. Silêncio.

    Na rotunda grande:

    – Então, até domingo!

    – Eh, pá! Deixem o Escrivão acabar de comer a banana!

    – Pronto! Eu dou o exemplo, que o Periglicófilo está atrasado. Até domingo!

    Fomos seis. Nos diálogos, também colaboraram o Informático Motard, o Peninha e o Físico.

     
  • nunorosmaninho 12:07 on 29/09/2020 Permalink | Responder  

    Novidades da Curia em 1944 

                O ano de 1944 foi de renovação das termas da Curia. O ímpeto construtivo dos bons anos vinte tinha passado e não voltaria a repetir-se, mas a chegada do empresário Manuel Pinto de Azevedo deu esperanças, alimentadas pela renovação interior do balneário e pela inauguração festiva da estação ferroviária. Em Maio, Jorge Barradas apresentou uma proposta para os painéis figurativos de azulejo, que hoje deslumbram o visitante, pronto a absorver a estética da tradição e dos ciclos campestres. Em Junho, ficou concluído o ajardinamento, que pelas décadas fora seria motivo de orgulho por causa dos prémios de estação florida. No Palace Hotel, foi instalado um «aviário artístico», com faisões e outras aves raras, dignas de admiração. Em criança, gostava de lá ir com os amigos e, quando calhava, trazer uma pena colorida abandonada junto à rede. A família Weiss, judia, de Budapeste, chegou a este hotel depois de ter sido espoliada das suas fábricas pelos nazis. Em Agosto, as comemorações dos quinze anos do Curia Palace Sports Club ficaram assinaladas pelos campeonatos nacionais de ténis. No dia 22, ocorreu a almejada inauguração da estação ferroviária, com a presença de políticos, altos funcionários, uma multidão e duas bandas de música. No banquete, houve discursos arrebatados, onde se lembrou a figura do ministro Duarte Pacheco, brutalmente desaparecido num acidente de automóvel e a quem se atribuía a iniciativa da construção.

                Ainda a memória dos festejos e dos factos não se esvaíra, nem a família Weiss se adaptara à tranquilidade aldeã das termas, e já ao Palace Hotel chegavam refugiados «alemães», provavelmente de origem brasileira, que, destituídos dos seus bens quando o Brasil entrou na guerra, faziam o trânsito para a Alemanha. Pararam aqui porque a derrota de Hitler estava certa. Um deles escreveu na parede de um quartinho do Palace Hotel, em letra gótica, um apelo inquietante em alemão: «Rapariga alemã sê atenta, sê camarada, sê corajosa e fiel, obediente e calada. Rapariga alemã, preserva a tua honra.»

                Longe da Curia, longe das competições desportivas, imerso no ensino, na criação literária e na colecção de antiguidades, José Régio escrevia à mãe para lhe desejar saúde, dar conta das enxaquecas habituais e informar de que, por falta de tempo, não fora a Évora pelo São João. A meteorologia é o sal dos dias. Em fins de Junho, o tempo estava «verdadeiramente maluco» em Portalegre. «Ora grandes calores», resume ele, «ora frio, ora trovoadas, ora ventanias tempestuosas…»

     
    • ANTÓNIO JOSÉ PIRES ROSMANINHO DOS SANTOS LOPES 12:58 on 29/09/2020 Permalink | Responder

      Muito Bom!

  • nunorosmaninho 20:53 on 24/09/2020 Permalink | Responder  

    Vêm aí as grandes provas ciclistas da Bairrada de 1944 

                Lembram-se de os anos ciclísticos começarem, no jornal A Voz Desportiva, com um artigo primaveril sobre a agonia do ciclismo em Coimbra? Isso acabou. Em 1944, a quebra deste desporto foi considerada definitiva. Não era assim em Lisboa, não era assim no Porto, não era assim, talvez, em Sangalhos, mas em Coimbra o silêncio significava que até o luto dos tempos do Pires, do Carreto, do Prior e do Rosmaninho estava terminado.

                A morte do ciclismo conimbricense coincide com o decínio do jornalismo narrativo, que fazia de cada notícia uma crónica. Há menos corridas para seguir e menos cor na descrição das que ocorrem. Ou, então, sou eu o inveterado saudoso do optimismo do primeiro terço do século XX. No entanto, como não quero nem devo criticar o único jornal que me oferece as provas bairradinas, registo com apreço o facto de A Voz Desportiva de 20 de Junho anunciar «as grandes provas ciclistas da Bairrada» em 1944:

                «O Sangalhos Desporto Clube, a nóvel colectividade bairradina que veio dar extraordinário desenvolvimento aos desportos na região, revolucionando até o ciclismo nacional com a criação de uma equipa, da qual faz parte o actual campeão nacional e que está a oferecer nova vitalidade à modalidade pelo apego à luta de que  têm dado provas os seus atletas – haja em vista a última prova de pista em que os seus ciclistas  José Martins e Túlio Pereira  bateram o record de Portugal, – vai realizar em 2 e 23 de Julho próximo as suas provas anuais Circuito da Curia e V Circuito da Bairrada

     
  • nunorosmaninho 15:42 on 22/09/2020 Permalink | Responder  

    Depressa – Portomar, 20 de Setembro de 2020 

                Na sexta-feira, a meio da tarde, a trovoada trouxe uma chuvada forte. No sábado, a água toldou o céu e fez pensar no Outono. Mas no domingo, às nove, tal como o Periglicófilo previra, o dia clareou, e quem estava no Patrocinador lançou-se de bicicleta na direcção do mar. O Rúben, jovem puro-sangue, pôs-se na frente e assim prosseguiu durante sessenta quilómetros, apenas com intervalo para o café. Isso provocou uma grande alegria, pela velocidade alcançada, e um temporário sofrimento, que terminou ao chegar a casa. Quem lá esteve, deu uma descrição superlativa, a começar pelo Periglicófilo, que acabou de descobrir fragmentos de osso a passear no cotovelo:

                – Estes tipos matam-me! Nunca fiz semelhante média na vida! Sessenta quilómetros em pouco mais de duas horas!

                O Informático Motard, que teve de andar mais, inscreveu estes lacónicos números:

                – 27,2 de média. 72,5 quilómetros de viagem.

                E rematou:

                – Obrigado, Rúben Saldanha!

                O Periglicófilo acrescentou:

                – Passei os 28 de média!

                O Peninha, fleumático e atento:

                – Ouvi alguém dizer que não andavam por média.

                O Vendedor não se pronunciou. Os outros ficaram com pena de não terem ido, e aliviados por não terem ido.

     
    • Rui Godinho 16:43 on 22/09/2020 Permalink | Responder

      Senti-me feliz por, em determinados momentos pensar que ainda aguentava um pouco mais de velocidade, mas na realidade íamos a mais de 35!!!
      O Ruben não puxou o caminho todo. Mas quase…

  • topedrosa 15:45 on 20/09/2020 Permalink | Responder  

    Quando me falta a bicicleta, sinto logo. 

    Também quero ser como estes Senhores.

    Vejam o artigo em https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/quando-me-falta-a-bicicleta-sinto-logo-aquilo-da-uma-saude-as-pernas-que-e-uma-maravilha-aos-89-e-84-anos-eles-nao-deixam-de-pedalar

     
    • Rui Godinho 15:50 on 20/09/2020 Permalink | Responder

      É mais ou menos como eu…

    • nunorosmaninho 15:47 on 22/09/2020 Permalink | Responder

      Chegar aos 89 com juízo já é uma sorte, com saúde é uma bênção, a andar de bicicleta é coisa dos deuses.

  • nunorosmaninho 18:34 on 18/09/2020 Permalink | Responder  

    Fala-se no regresso de Alfredo Trindade 

                Vergílio Correia já não soube do desembarque dos Aliados na Normandia. Já não pôde conhecer a tragédia e o heroísmo de jovens de vinte anos a saltarem dos botes e a correrem de frente para as metralhas que os dizimavam em vinte segundos, às vezes menos. Enquanto em Coimbra se lamentava a morte de Vergílio Correia e em França milhares de soldados se entregavam às balas, os amantes de ciclismo fixavam-se no «possível reaparecimento» de Alfredo Trindade. Essa notícia, diria melhor, esse desejo, inscrevia-se na nostalgia do passado, a que todas as gerações cedem.

                O jornalista que escreveu sobre o eventual regresso de Alfredo Trindade na Vida Mundial Ilustrada de 8 de Junho de 1944, encetou a peça com uma redundância desculpável: «Dizia-nos alguém, há semanas atrás: “Você já reparou na falta de entusiasmo pelo ciclismo? Nota-se a ausência de umas notícias de sensação, que antigamente faziam delirar o público e vender loucamente os jornais. Não lhe parece?”» O jornalista disse que sim e, não podendo o passado eternizar-se, foi lá buscar ao menos uma partícula com possibilidades de futuro, ainda que breve.

                O jornalismo desportivo esfriara em relação ao ciclismo? Era preciso aquecê-lo. Os ciclistas tornaram-se comodistas e sem garra? Era preciso que procurassem a vitória sem esperarem pelos últimos duzentos metros. Havia cada vez mais técnicos presos à qualidade do material e à postura dos corredores? Era preciso que insuflassem excitação. «O lado emocional que prende a atenção do público pôs-se de parte»? É preciso que a paixão regresse.

                «– Então voltas a correr, Alfredo?» – perguntou o jornalista.

                «O antigo campeão nacional, que numa célebre digressão ao Brasil não perdeu uma única prova, sorri com a maneira intempestiva como entrámos, aliás justificada por uma amizade de um boa dúzia de anos:

                «– É certo que eu e o Marquês recebemos uma proposta para correr pelo Boavista. Não decidimos ainda. Todavia, não era para irmos para a estrada.

                «– Só pista…            

    «– Sim.»

     
  • nunorosmaninho 18:24 on 18/09/2020 Permalink | Responder  

    Mais velodamas do que é costume – Praia de Mira, 13 de Setembro de 2020 

                Cumprido o Verão, cumpridas as voltas a Fátima, à Torreira e à serra da Estrela, aproveitamos em Setembro o sol que faltou em Agosto. Regressámos a Portomar.

                O Vendedor desenvolveu, a nosso pedido, as circunstâncias da sua viagem solitária a Fátima. Às sete já ia na Mealhada e às onze e meia encontrava-se no santuário. Expressei a minha admiração e o meu regozijo pelo bom ritmo que empregou. Ele disse ter estranhado a escassa afluência de ciclistas e contou como, de acordo com a sua natureza engraçada, convenceu a esposa e o filho, ao fim da tarde, que ainda estava em Pombal, quando, na verdade, se encontrava a três quilómetros de casa. O Rúben, desconfiado das capacidades do pai, festejou. Dez minutos depois, foi obrigado a reconhecer que as suas qualidades atléticas também provêm dos genes.

    O Físico, o Periglicófilo, o Peninha e o Vendedor escolheram tomar a rota que me era mais favorável. Fomos na direcção da Praia de Mira e, pouco antes de vermos o mar, inflectimos para norte, supondo que iríamos à Vagueira, e daqui para Vagos, onde os amigos seguiriam para a Bairrada e eu para Ílhavo. Foi neste troço que nos cruzámos com muitas velodamas, quero dizer, aí umas oito, o que é muito, comparado com o habitual. Porque festejámos? Por mor da diversidade de género? Pelo gosto de as ver? Por queremos confirmar uma previsão, feita há décadas, que tarda em se realizar?

    Íamos nisto quando o Periglicófilo avisou que ia parar. Tinha furado a roda dianteira. O conserto, feito expeditamente por quem sabe, ficou registado em fotografia. Atendendo ao avanço da hora, diminuímos o alcance da volta. Regressámos ao cruzamento do Poço da Cruz e virámos para leste, convencidos de que choverá no próximo domingo.

     
  • nunorosmaninho 15:23 on 10/09/2020 Permalink | Responder  

    Vergílio Correia, benfiquista e historiador de arte 

                Estamos, como se lembram, no que à história do ciclismo diz respeito, em 1944. Eu, tomando amplas liberdades, aproveito para falar de outras coisas. Em 4 de Junho, Belisário Pimenta anotou, com tristeza, a morte, na véspera, do historiador de arte Vergílio Correia, vítima de uma «congestão fulminante». Lembrava-se de o ter conhecido, em 1911, num comício para as eleições constituintes, quando lhe chamavam o Vergílio dos cacos, numa alusão à sua paixão pela etnografia e pela arqueologia. Nesse tempo, Vergílio Correia, só ou acompanhado por amigos, calcorreava os arredores de Coimbra em busca de elementos de estudo. Há vinte e oito anos, na leitura integral da sua obra, encontrei esses passeios repercutidos em artigos sobre pesos de tear, louça pintada, mobiliário, etc.

                Quando Belisário Pimenta escreve que ele calcorreava os arredores de Coimbra, estabelece que as deambulações se faziam a pé.  E como persuadia ele os rapazes da sua idade, que em 1911 andava pelos vinte e três anos, a participar nessas expedições? Belisário Pimenta, homem minucioso, cultor da memória, explica-nos isso muito bem: com «promessas de bons pastéis como em Tentúgal ou de curiosidades e belezas naturais como em Condeixa». Isto é mais ou menos o que nós fazemos de bicicleta, sem o fruto dos ensaios etnográficos.

                Como estudioso, Vergílio Correia era metódico, sério, compenetrado, alheio às fosforescências do humor e da subjectividade. Parece ausente do que escreve. Belisário Pimenta não podia saber, portanto, que, abaixo do cérebro que resolvia os problemas de Grão Vasco e da pintura mural do século XVI, batia um coração de desportista, amante do futebol e do Benfica. Paula Figueira Santos deu-me a ler a Vida Mundial Ilustrada, de 21 de Dezembro, onde o jornalista Carminé Nobre evoca o entusiasmo desportivo do circunspecto erudito:

                «O malogrado Professor Doutor Vergílio Correia era um apaixonado adepto do Sport Lisboa e Benfica. Porém, como mestre da Faculdade de Letras de Coimbra, tinha também simpatias pelo grupo da Associação Académica, e o contrário ficava-lhe mal, como muitas vezes nos afirmou.

                «O ano passado, encontrámos o professor Vergílio Correia depois dum desafio entre a Académica e o Benfica no campo de Santa Cruz, e com certa curiosidade perguntámos-lhe:

                «– Então, senhor doutor, a sua posição hoje no campo era difícil!

                «Resposta pronta do ilustre mestre:

                «– Delicada, delicada… mas lá me conservei em neutralidade vigilante…»

     
  • nunorosmaninho 16:23 on 09/09/2020 Permalink | Responder  

    A teimosia de Rokossovski 

               A teimosia de Rokossovski é a do homem que, metido num mundo de obediência e morte, sustentou um parecer e sobreviveu. Passou-se isto em pleno estalinismo. Em Portugal, onde estes desafios eram mal conhecidos e a utopia preferia ignorá-los, o Partido Comunista dirigiu-se aos operários e camponeses da região de Lisboa, em 8 e 9 de Maio de 1944, para que apresentassem as suas reivindicações ao patronato, tocassem o sino a rebate e empreendessem marchas de fome às vilas mais próximas. «Heróicos trabalhadores!», escreveram os comunistas no manifesto. A insurreição não se deu com a magnitude desejada pelos revolucionários. Na luta desigual contra o Estado Novo, os ousados acabaram presos. A praça de touros de Vila Franca de Xira e do Campo Pequeno receberam centenas de grevistas aprisionados.

                A União Soviética era diferente e não era melhor, embora estivesse com os Aliados na guerra contra Hitler. No dia 20, Estaline delineou com os generais a grande ofensiva de Verão, que deveria expulsar as tropas nazis do território russo. Estabeleceram os planos e as tácticas. Creio que Estaline pensava numa frente única. Um general de origem polaca propôs duas frentes para diminuir o número de baixas. Estaline ordenou-lhe que saísse da sala. Sentado do outro lado da sala, ele devia meditar na ousadia que acabara de cometer, ao discordar do grande chefe, e em quantas pessoas haviam sido executadas por atitudes menos graves. Ele saiu, lembrou-se da tortura a que fora sujeito antes da guerra e, quando regressou à reunião, reafirmou o seu ponto de vista. Estaline voltou a expulsá-lo para que, na sala ao lado, pensasse melhor. «Não sejas teimoso, Rokossovski», disse-lhe o ditador, o comunista e o psicopata. Molotov e Malenkov foram ter com ele e lembraram-lhe que não podia discordar do camarada Estaline. «Concorde…», aconselhou Molotov, «é só o que tem a fazer!»

    Rokossovski regressou à reunião magna. Estaline perguntou-lhe outra vez quantas frentes se deviam abrir na guerra contra a Alemanha. Rokossovski teimou: «Duas.» Estaline, por uma vez, aceitou. A ofensiva começou a 23 de Junho. A 22 de Julho, Estaline já tomava medidas para formar um governo na Polónia. Delineava-se a divisão política da Europa. Para os polacos, isso significou passar de país invadido pelo nazismo para país subjugado pelo estalinismo. A derrota nazi não seria a vitória da Polónia.

    Em dia mau, Rokossovski poderia ter seguido para os calabouços. Em dia pior, para os gelos da Sibéria ou, simplesmente, morto.

     
  • nunorosmaninho 15:57 on 07/09/2020 Permalink | Responder  

    Correu tudo muito bem – Portomar, 6 de Setembro de 2020 

                Não quero (e não posso) deixar de informar que as viagens cíclicas retomaram o esplendor dominical neste início abençoado de Setembro, em cuja luz e em cujo vento a equipa, quase completa, foi dos fornos do Patrocinador até à esplanada de Portomar. Sem desprimor para os outros, tenho de registar a satisfação que senti ao ver o Periglicófilo, na plena posse do cotovelo e das pernas, a fazer uma selfie onde estão todos, incluindo o Informático Ferroviário, que se chega à frente para caber na fotografia.

                Correu tudo muito bem, pelo que sei, apesar das queixas de véspera por causa do descanso e da falta de forças. O Periglicófilo e o Físico reclamaram para si o papel de travões do grupo. Eu, perante os comentários que se trocavam na noite de sábado, e estando comprometido para um jantar e um almoço, arrumei o assunto com a seguinte declaração, cheia de figuras de estilo: «Acabei de travar um cabrito. Amanhã, Talvez uma vitela. E assim vou travando este fim-de-semana.»

                – Em Portomar, contra o vento? – perguntei, às 10h07 da manhã, assim que recebi a fotografia.

                – Nem por isso – respondeu logo o Periglicófilo, antes de retomarem a viagem. – Consegui chegar com quase 27 de média!

                Às 13h46, o Informático Motard acrescentou:

                – 25,2 até casa, com 74 quilómetros de viagem.

                O Periglicófilo concluiu:

                – Consegui 25 em apenas sessenta quilómetros.             E digo concluiu porque o Peninha, com a camisola do Sporting, nada disse; o Físico, de azul, também não; o Informático Ferroviário, com um vermelho suspeito, idem; e o Vendedor, metido no radioso equipamento do Benfica, próprio de um campeão, nada quis dizer.

     
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