Updates from Maio, 2017 Toggle Comment Threads | Atalhos de teclado

  • nunorosmaninho 22:18 on 31/05/2017 Permalink | Responder  

    Os corredores passam por Foz de Arouce e Vilarinho 

    Eram portanto nove corredores, cento e vinte quilómetros e subidas violentas, Poiares, 11 de Agosto de 1935. «Alves Barbosa e Joaquim Maria Davim, ambos representando o Ginásio Club Figueirense, eram os dois corredores mais categorizados que tomaram parte na prova, e a sua classe, superior aos restantes, fez-se logo notar de entrada. Tomam a cabeça do pelotão e ao Entroncamento levam já um pequeno avanço. Antes de cinco quilómetros andados já há a registar duas desistências.

    Foz de Arouce é passada a grande velocidade pelos da frente do pelotão, com Barbosa e Davim isolados e alternando no comando. À meia hora de caminho temos Lousã à vista.

    Muita gente pela estrada, até que uma multidão no local do controlo aplaude Barbosa que se distancia do seu companheiro de clube. Vilarinho é passado às 15 e 50.»

    – Falta emoção a isto, senhor Escrivão.

    – Não. O que falta é a presença de Joaquim Rosmaninho. Andamos por aqui com pouca convicção. Já me apeteceu abandonar esta busca e escrever sobre a expedição de Tomás da Fonseca ao Caramulo, mas não posso. Imagina que, sem aviso, o Joaquim reaparece?

     
  • nunorosmaninho 16:17 on 30/05/2017 Permalink | Responder  

    Chegámos a Poiares 

    O leitor atento já deve ter percebido que as corridas de bicicletas nascem muitas vezes de festividades religiosas. Chegámos a Poiares quando a «ridente e próspera vila» estava em festa por causa de Nossa Senhora das Necessidades. O público entendido esperava assistir a uma competição regional, sem os «tubarões» de Lisboa que nos últimos anos ganhavam tudo. Uma semana depois de se ter consagrado na Mealhada, José Maria Nicolau venceu pela terceira vez a corrida Porto-Lisboa e baixou o tempo para 11 horas e 18 minutos. Alfredo Trindade foi o segundo. Mesmo sem estes ases, a população de Lousã, Góis, Arganil e Côja preencheu as bermas das estradas.

    Para os padrões de 1935, a II Volta a Poiares foi dura. Ouvi pessoas garantirem que o baixo número de inscrições ficou a dever-se aos 120 quilómetros «com subidas violentas». Às 15h09, partiram nove ciclistas. Como não tenho tempo a perder nem outras coisas a salientar, passo imediatamente ao relato da prova.

     
  • ruigodinho1962 11:35 on 28/05/2017 Permalink | Responder  

    Sociedade Unipessoal (e Limitada) 

    Os múltiplos afazeres e encrencas que tombam sobre a vida das pessoas, qual espada de Dâmocles omnipresente, fez com que a volta cíclica de hoje fosse algo ‘sui generis’. Aquele que de vez em quando invoca os mais variados motivos para não rodar foi o único que se aprestou… e pedalou. Uma volta sem nada de especial a assinalar (casa-Mira-Cantanhede-casa), a não ser mesmo esta dificuldade que se vai sentindo de aglutinar um grupo que já chegou a contar com 9 ou 10 elementos. Melhores dias virão, estou certo disso. E a Estrela não há-de sair do sítio!…

    Ah!… E a roda continua afirmativa! Batam na madeira! Batam!!!…

     

     
    • nunorosmaninho 20:57 on 28/05/2017 Permalink | Responder

      Então o Enólogo apresentou-se ao serviço dois domingos seguidos? E fez a volta completa por Mira e Cantanhede? Abençoado seja ele! E não se queixou?

    • nunorosmaninho 21:00 on 28/05/2017 Permalink | Responder

      Já agora: eu, que me confesso pecador por omissão nas voltas de domingo, estou galvanizado para a subida da serra da Estrela. Não se iludam: só esta semana fiz quatro vezes bicicleta estática no ginásio. Não olho a meios para atingir os fins!

    • Rui Godinho 23:01 on 28/05/2017 Permalink | Responder

      Mas eu não tenho a mínima dúvida de que sejas o elemento com melhor preparação para a Estrela! Até porque não são as voltas de Domingo que nos preparam!…

      • nunorosmaninho 14:32 on 29/05/2017 Permalink | Responder

        Isso agora de estar na melhor condição é matéria sujeita a controvérsia. A minha ideia era mostrar que não tenho estado ao domingo, mas continuo activo para responder afirmativamente, se tudo correr bem, à próxima convocatória.

    • Paulinho 21:46 on 29/05/2017 Permalink | Responder

      Admira-me que nunca tenham tempo para fazer o trajeto Mira-Cantanhede e na minha ausência haja tempo para tudo.

    • Rui Godinho 06:55 on 30/05/2017 Permalink | Responder

      Cá tinha que vir o veneno!!!
      Em 1º lugar, ainda há poucas semanas fizemos esse percurso. Em 2º, o sr. Vendedor não reparou que a volta foi feita de uma assentada, sem paragem para a nata, que gosto muito, mas também tem o efeito perverso de se estar a tornar um “veneno” para nós: demoramos cada vez mais e, pior ainda, quanto menos pedalamos, mais natas comemos!

  • nunorosmaninho 22:06 on 26/05/2017 Permalink | Responder  

    Os tempos de coruja explicados ao Anastácio 

    O Anastácio deixou-se ficar calado e eu, pensando ter dito tudo o que cumpria, calei-me também. O Anastácio ia conduzindo devagar, distraído da estrada, talvez pensando no que lhe contara. Por fim, interpelou-me.

    – O senhor Escrivão vai-me desculpar, mas há coisas nessa história que não entendo. Eu imagino pelo contexto o que sejam os tempos de falcão, mas não os de coruja.

    A minha resposta não foi directa. Falei daquilo em que estava a pensar.

    – É lamentável ver Agostinho de Campos usar a expressão tempos de coruja e tempos de falcão, que resume um célebre episódio da luta de D. João II contra a nobreza. Enquanto não prendeu o duque de Bragança e o condenou à morte, o rei praticou a máxima discrição para identificar os inimigos. Quando decidiu agir, foi implacável. O problema é que no centro do episódio está um espião chamado Figueiredo, sub-reptício como dizem ser as aves nocturnas.

    – Onde leu isso?

    – Oliveira Martins. Ele é que diz que esse tal Figueiredo ia contar tudo ao rei e este, na sua «voz demorada, baixa e fanhosa», lhe recomendava: «Guarda-te o melhor que puderes, e depois te darei mercê.» Quando o duque foi preso e a perseguição viu a luz do dia, «o rei deu a mão a beijar ao Figueiredo» e afirmou: «Até agora fiz que te não conhecia, de ora avante olharei por ti. Pede o que quiseres: há tempos de coruja e tempos de falcão…»

    – Então os tempos de falcão…

    – …são de perseguição e morte. O duque foi degolado em público no rossio de Évora em 1483. Os processos são simulacros, apaga-se a lei civil, sobe a lei da força.

    – Agostinho de Campos estava a ameaçar Joaquim de Carvalho?

    – Vamos às corridas. Ainda falta muito para Poiares?

     
  • nunorosmaninho 12:03 on 25/05/2017 Permalink | Responder  

    Tempos de falcão 

    Os factos que dão conteúdo a esta nota, na qual resumo o que disse ao Anastácio a caminho de Poiares, foram-me narrados pelo coronel Belisário Pimenta, que viveu no Estado Novo contra o Estado Novo e morreu sem lhe ver o fim. No mês de Julho deste ano de 1935, frequentou o curso de férias da Faculdade de Letras de Coimbra para ouvir as lições de literatura de Agostinho de Campos. «Lições excelentes», disse-me ele, «atraentes, ligeiras sem aspectos catedráticos.» No dia 28 foi na excursão ao Caramulo, Viseu e Vale do Vouga organizada pelos professores, ou melhor, pelos professores que apoiavam o salazarismo e queriam dar à visita uma expressão política. «Imaginei ser apenas uma excursão», referiu ele um tanto agastado, «e afinal foi uma trapalhada dos diabos, com missa obrigatória em Tondela e momentos de êxtase em Santa Comba como se tivéssemos chegado à Terra da Promissão…»

    Belisário Pimenta, vendo-me interessado, explicou que, a propósito de tudo e de nada, os professores foram «atirando à cara dos estrangeiros e de nós próprios, as excelências da ditadura e o valor excelso do grande Chefe». Apesar de reconhecer as qualidades académicas de Agostinho de Campos, o coronel sabia ter sido ele o promotor da «nova feição» dada às excursões dos cursos de férias. E isso ele só podia lamentar porque nascia da intolerância e conduzia por força ao disparate. «Na conferência que o Amorim Girão fez sobre o Caramulo, e ao exaltar a Beira como o coração de Portugal, disse que desta província portuguesa saem os maiores homens!»

    – E afinal onde é que entram aí os tempos de falcão? – perguntou o Anastácio.

    No conselho da Faculdade de Letras que aprovou o plano do curso, Agostinho de Campos, tendo ganho o domínio da organização, virou-se para o republicano Joaquim de Carvalho e, como se o consolasse, disse-lhe arteiramente:

    «– Bem vê, meu Amigo, que há tempos de falcão e tempos de coruja…»

     
  • nunorosmaninho 11:20 on 24/05/2017 Permalink | Responder  

    Mel, água, fazendas e falcões 

    Saímos desanimados da taberna do Maneco. Que mundo era este, assim fechado e tristonho? No Palace Hotel, jogava-se o Lawn-Tennis e nadava-se numa piscina «com a entrada média de cinquenta mil litros de água por hora, sistema de água corrente». Os aquistas podiam comprar tecidos na Loja das Fazendas junto à Pensão Lourenço e mel, coelhos e artigos de bicicletas na casa de Abel Pinho. O País, dominado por exaltados da pátria, católicos e moralistas, encontrava-se em tempos de falcão.

    Era isto mais ou menos o que eu dizia ao Anastácio quando entrámos no carro com destino à Volta a Poiares, já sem esperança de rever Joaquim Rosmaninho. A conversa progrediu para outras coisas, falámos do novo serviço de automóvel de aluguer que o Augusto de Espairo instalou na Curia, referimo-nos ao facto de ser um Chevrolet e até nos questionámos sobre o documentário Despertar de Lisboa que acompanhava a superprodução da Fox intitulada O Príncipe João, naqueles dias em exibição no casino. No entanto, foi aos tempos de falcão que regressámos. O Anastácio, sempre pronto a atalhar a morbidez das minhas evocações, escutou desta vez com atenção um curioso episódio relacionado com uma excursão a Tondela, Caramulo e Santa Comba Dão.

     
  • nunorosmaninho 11:54 on 23/05/2017 Permalink | Responder  

    Ideias simples 

    Na taberna, o Maneco tentava provar duas ideias simples: o José Maria Nicolau era melhor do que o Alfredo Trindade e o Benfica melhor do que o Sporting. O debate trouxe-me à lembrança a disputa em que me vi envolvido mais de três décadas depois, quando me convenceu a ser benfiquista. Fui recebido na fórmula do costume, «olha o dom Nuno Álvares Pereira, anda sempre da mesma maneira, ao domingo e à segunda-feira», e o «Anastácio de Melo», etc. Privo-vos da descrição. Não vos privo de saberem o que lá fui fazer.

    O avô Maneco tinha presenciado a corrida da Mealhada e ainda se encontrava em estado de exaltação, com o entusiasmo que lhe subia quando, já velho, me falava de Alves Barbosa e Floriano Mendes. Expliquei-lhe que também lá estivera e que, como benfiquista, gritara pelo Nicolau. Mas senti a falta do Joaquim.

    – Pois é! O Joaquim saiu desanimado da Volta a Portugal de há dois anos e não há quem o ponha a treinar como dantes. Os clubes de Coimbra também estão mal. Corridas, há poucas, e nessas os clubes de Lisboa, bem organizados, levam sempre a melhor.

    – Quer dizer que o Joaquim continua inactivo…

    – Inactivo, inactivo não está, mas quase. O que ele treina não chega para correr.

    – Vem aí a II Volta a Poiares…

    – Pois, pois. O Joaquim não vai lá estar.

    – E o I Circuito da Bairrada…

    – Nada feito.

     
  • nunorosmaninho 13:30 on 22/05/2017 Permalink | Responder  

    Esqueci-me 

    A multidão vitoriou José Maria Nicolau, depois foi-se reduzindo, ouvia-se a vozearia nos estabelecimentos marcados com ramos de loureiro, muita gente ia-se dispersando a pé e de bicicleta. A tarde parecia não ter fim. Mas foi já com os faróis ligados que chegámos à loja do Maneco. O Packard atraiu as crianças que deambulavam pela Capela de Nosso Senhor dos Aflitos. Uma em particular, que vinha a correr da viela da casa de Joaquim Rosmaninho, abrandou e fez menção de se empoleirar no estribo. Emitia uma lengalenga incompreensível.

    – Olha aí, rapaz! Não estragues nada – disse-lhe o Anastácio.

    Quando chegámos à porta da loja, entrou o miúdo, outra vez com pressa. O balcão ficava-lhe à altura do peito. Bateu duas vezes a moeda que segurara com firmeza durante o trajecto de pouco mais de cem metros.

    – D. Águeda! D. Águeda! Queria… Esqueci-me.

    – Então?

    – Esqueci-me do que a minha mãe pediu.

    – Pronto, vai a casa e volta.

    A avó Águeda passou para a taberna e nós seguimo-la pelo lado de fora.

     
  • topedrosa 17:43 on 21/05/2017 Permalink | Responder  

    Natas sem História – Portomar, 14 de Maio de 2017 

    O título é um pouco enganador, no puro estilo do Correio da Manhã. A intenção é ver se alcanço mais umas visualizações. Na realidade histórias houve algumas., docentes de História é que não.

    O nosso Periglicófilo organizador estava ausente e delegou-me a chamada. Os Informáticos juntaram-se ao Físico em Anadia e foram ao encontro do Paulinho já à espera no Patrocinador. Quando estavam quase de saída apareceu o quinto elemento, na pessoa do Enólogo, indiferente aos festejos ainda frescos da noite do tetra campeonato, equipado a rigor com a camisola e calções do Tavira.

    O tetra trouxe de volta o Informático Motard. A coincidência foi logo notada pelo Paulinho. Tantas semanas sem vir, e aparece no dia a seguir ao desfecho matemático do campeonato. Quase tantas semanas como aquelas em que lhe foi prometido um equipamento do Glorioso e até agora nada.

    O reencontro permitiu pôr as conversas em dia e, num bom ritmo, talvez bom de mais para algumas pernas destreinadas, estávamos na esplanada de Portomar. Tivemos direito a dose dupla. Espero que a moda não volte a pegar. Nem sei se ajudou ou não no regresso, mas sei que o vento esse não ajudou. Sempre do contra.

    Os nossos conhecidos Jorge e Gonçalo publicaram um artigo no blogue dos Anadiabikers sobre a ida ao Douro Grandfondo no dia 7 de Maio. Podem ver os pormenores da volta de 156 km e 3300 m de elevação em Douro Granfondo. Arrepiei-me ao ver a descrição do que deve ser uma lindíssima e custosa volta, mas cheguei à conclusão que o que faz mesmo falta nas nossas voltas pela Bairrada é a ajuda divina. E eu que não sou religioso …

     

     
    • Rui Godinho 18:14 on 21/05/2017 Permalink | Responder

      Com esses números, nem coragem tenho para seguir o link!!!!!

    • nunorosmaninho 22:20 on 21/05/2017 Permalink | Responder

      Sinto-me penalizado por não ter visto ainda o Paulouro equipado à Benfica. O fornecedor de equipamentos não está a responder. Ou haverá alguma conspiração para que a gloriosa camisola não venha? Não sei o que escreveria sobre este assunto o Correio da Manhã.

  • nunorosmaninho 21:16 on 17/05/2017 Permalink | Responder  

    Chegada 

    «Nicolau e Marquês continuam pedalando com vigor, o corredor vermelho tenta a sua chance antes de começar a descer para o Luso e logra uns quinhentos metros de avanço; o duelo entre os dois corredores é estupendo, ambos marcham doidamente sobre a movediça terra vermelha; no Luso já Nicolau tem aumentado a distância talvez para uns setecentos metros e aí a corrida fica decidida, pois se um caminha numa velocidade impressionante, o outro não lhe fica atrás; na Mealhada a chegada dos concorrentes é um espectáculo de difícil descrição; a grande prova obtivera um final compatível com o seu valor.

    A massa compacta de povo que se aglomerava na meta, contida pelas cordas que o isolava do recinto da chegada, ao saber, pelas informações que iam sendo recebidas, que os corredores já tinham passado no Luso e que Nicolau vinha à frente, agita-se e rompe logo em aclamações àquele corredor.

    Efectivamente, por entre um entusiasmo delirante, surge a camisola vermelha do Benfica, que Nicolau enverga e corta a meta às 19,58 horas, fazendo assim o percurso em 4 horas e 58 minutos.

    Imediatamente a seguir, surge José Marquês, que é também muito aclamado. E entre estes dois corredores e os que chegam depois há uma diferença de tempo maior, que o público aproveita para dar largas à sua alegria e aos comentários mais vivos conforme as suas simpatias.»

    José Maria Nicolau foi premiado com quinhentos escudos e uma medalha de ouro.

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