Boas!

            Li com prazer o relato da peregrinação a Fátima. Há denodo nos atletas das viagens cíclicas. Há organização táctica nos abastecimentos alimentares. Há finura de espírito para o que interessa. Há exclamações e reticências no cumprimento do Vendedor à bela velodama. Há, porém, falta de clareza nesse exagero de pontuação. Há, mesmo, incongruência no facto de o Vendedor ter dito Boas!, apesar de ser apenas uma ciclista. Ora, eu não estive lá, mas sei o que aconteceu, e vou contar.

Por volta de 2015, lembro-me bem, numa das muitas viagens pela ruralidade bairradina e gandaresa, vimos, ao longe, uma mulher com um carro-de-mão. Era Verão, como agora. Íamos casualmente em silêncio e, por isso, vimos bem as vistosas melancias que enchiam o carrinho. Mirámos, ao mesmo tempo, a mulher que as levava. Seguimos mais cem metros, , sorridentes, em comunhão de espírito, até alguém dizer

– Que belas melancias!

No regresso de Fátima, o Vendedor cruzou com a Velodama, dobrada sobre o guiador. Ela desejou-lhe boa tarde. E ele, poeta, respondeu apenas:

– Boas!