Updates from Julho, 2017 Toggle Comment Threads | Atalhos de teclado

  • nunorosmaninho 19:59 on 25/07/2017 Permalink | Responder  

    O diabrete 

    O diabrete que justifica este apontamento não é o Escrivão, vosso criado, que se limitou a comer duas tripas na Costa Nova na noite anterior à subida da Covilhã, ainda que as tivesse passeado ao mesmo tempo, uma em cada mão. Nem o ciclista que levava a bicicleta à mão nas proximidades do túnel, cansado e lesionado. Nem a velodama que vimos ainda na Covilhã e com quem trocámos cumprimentos a cinco quilómetros da Torre. Nem as jovens mulheres que caminhavam nas Penhas da Saúde, uma com pesada mochila, outra ouvindo talvez música pelos auriculares.

    O diabrete apareceu na Torre vestido de azul, dez minutos depois de nós. Pediu para ser fotografado e declarou ir comprar uma sandes de queijo. A um ciclista, pergunta-se sempre de onde vem. Este vinha de Lisboa, o que estava de acordo com o seu falar, e contou as suas andanças mais ou menos assim:

    – Saí de Lisboa às seis da manhã de ontem e fui até Castelo Branco, onde fiquei numa pensãozinha. Comprei uma camisola no Lidl e vim até aqui. Agora, vou outra vez para Castelo Branco e amanhã volto para Lisboa.

    Fizemos as contas às centenas de quilómetros e espantámo-nos. O diabrete conhecia mal as dificuldades da serra e manifestava despreocupação. Medimos o cabelo ainda preto e a barriguinha, e concluímos que já ultrapassara os quarenta anos. Ele olhou-nos, viu o que só ele sabe e acrescentou:

    – Ainda por cima, estive com uma gaja até às quatro da manhã e só dormi duas horas antes de partir.

    Atesto por minha honra a veracidade do diabrete e do diálogo. Do resto, cuidem vocês. Ele teria dito mais coisas, mas só depois, já a comer pataniscas medíocres nas Penhas da Saúde, é que lamentei as perguntas que não fiz.

     
  • nunorosmaninho 10:56 on 24/07/2017 Permalink | Responder  

    Coisas do Mafarrico 

    Ao escrever que o Inferno da Covilhã não é como o pintam, abri caminho a três desgraçadas interpretações. Primeiro: o itinerário é fácil. Vendo o absurdo da ideia, Pedro Rui de Jesus questionou: «Abateu-se o mito de dificuldade dessa subida? Na Volta a Portugal podem existir outras opções do circuito escolhido, criando maiores dificuldades aos atletas/ciclistas?» Nem pense nisso, caro amigo! Nós fomos em peregrinação e não como atletas. Queríamos chegar, mas sem pressa.

    Segunda interpretação: o Motard e o Escrivão são fisicamente tão poderosos que se dão ao desplante de escarnecer da serra. Isso seria pôr os homens acima da natureza. Ocorre-me logo Félix Krüll, cavalheiro de indústria, a dizer na página quarenta e um das memórias: «Pensa que o homem nunca se farta de ouvir afirmar que agradou, que agradou verdadeiramente, para além de toda a medida.»

    Terceira interpretação: o Motard e o Escrivão conseguiram harmonizar as suas forças com as dificuldades da serra. Seguiram primorosamente o conselho de Félix Krüll exposto na passagem da página duzentos e oitenta e nove para a seguinte: «por mais longe que o possa levar a sua viagem, não deve tratar com negligência o seu começo, sob o pretexto de que não passa dum começo».

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    • Rui Godinho 11:40 on 24/07/2017 Permalink | Responder

      Nem mais! E quem fala assim não é ‘gago’!!!

  • nunorosmaninho 21:43 on 23/07/2017 Permalink | Responder  

    O Inferno não é como o pintam – Covilhã-Torre, 23 de Julho de 2017 

    Eram dois os ciclistas que às sete e meia da manhã partiram de Avelãs de Caminho num Toyota de vinte e cinco anos e fecho centralizado, sensores de estacionamento, bluetooth e vidros eléctricos, tudo instalado pelo Informático Motard. O outro era o Escrivão, que mal sabe apertar um parafuso. Atravessaram a serra da Estrela pelo Sabugueiro e desaguaram na Covilhã, atentos e preocupados com a localização dos picos de 21 e 22 por cento de inclinação, que estariam para a serra como as labaredas para o Inferno.

    Nos dias anteriores, quando estes declives se tornaram conhecidos, o Escrivão sentiu-se desresponsabilizado e tranquilo. Mesmo assim, havia uma empreitada a cumprir. Declarou-se serralheiro em serviço. Propôs alguns procedimentos ao Motard e tão bem se deram neles que duas horas e cinquenta e nove minutos depois, com uma naturalidade inquietante, encontravam-se na Torre. Mediram o esforço com exactidão. Nunca tiveram pressa, excepto nos últimos quatrocentos metros. Sacudiram impiedosamente os insectos. Viram muitos automóveis passar. Não se queixaram do calor. E não deram conta do tal pico de 22 por cento.

    É preciso que saibam, para bom entendimento do que se segue, que o Escrivão e o Motard treinaram duas vezes no Moinho do Pisco e que na quinta-feira se impuseram uma subida circunspecta da rampa para Aguedão com o firme propósito de perceberem como se vencem declives violentos sem ofegar. Esta rampa está classificada no Doogal com 19 por cento e só se deixa ultrapassar de pé. Ora, na Covilhã o Inferno foi transposto sentado e a conversar. Alguma coisa está errada.

    Os ciclistas passaram o resto do dia a responder a duas perguntas. Primeiro, em algum ponto a estrada que vai da Covilhã para as Penhas da Saúde apresenta um declive de 22 por cento? Não. Segundo, é a subida da Covilhã mais árdua do que a de Loriga? Puseram o Toyota a descer por Valezim para se esclarecerem e não chegaram a ciência certa. Acordaram, porém, que a subida por Loriga-Valezim foi mais difícil, quer por causa do calor, quer porque as maiores dificuldades chegam quando já há mais cansaço. E onde é que há declives mais abruptos?

    Por fim, cansados de debater estes assuntos, pensaram noutra controvérsia. Ser-lhes-á possível subirem pelo Sabugueiro, descerem para Manteigas, ascenderem de novo à Torre e voltarem a Seia? Quando?

     
  • nunorosmaninho 19:56 on 20/07/2017 Permalink | Responder  

    Preparativos para o Inferno 

    Como ficou patente na notícia da terceira subida da serra da Estrela, o Escrivão não exagerava os receios nem as dificuldades. Viram a fotografia em que ele, o Periglicófilo e o Motard são apanhados a padecer? Essa é a verdade dos factos. Vem agora o declive da Covilhã. O problema adensa-se e toca as franjas do impossível. Reparem neste diálogo travado por correio electrónico. Admirem a franqueza dos atletas. A fraqueza também.

    Escrivão: Vai pensando na hipótese de irmos à Covilhã no domingo e já não teres uma desculpa tão boa para faltares à quarta subida…

    Periglicófilo: Afinal vocês vão no domingo?! Vai ao Doogal e vê o perfil da coisa! Há lá zonas com subidas acima dos 20 por cento! Nem com sessenta dentes na cassete lá chegava!

                   Escrivão: Vinte por cento?! Onde é que nos vamos meter?!

                   Periglicófilo: Logo ao quilómetro quatro enfrentas 22 por cento! Aquilo é demasiado esforço.

                   Escrivão: Não me vejo a subir 22 por cento!

                   Periglicófilo: Acredito que sejam situações meramente pontuais, tipo curvas apertadas ou assim. Mas é inibidor!

    A tarefa parece portanto impraticável. Fui ao tal Doogal ver o que se passava. Deu isto:

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    • Paulinho 12:50 on 22/07/2017 Permalink | Responder

      Com muita pena minha, que adoro subidas com essa inclinação e superior, não poderei ir porque o Rúben tem prova no domingo!!!
      Espero que desfrutem desse passeio.

      • nunorosmaninho 19:10 on 22/07/2017 Permalink | Responder

        Para te contentar, voltamos à Covilhã no dia seguinte ou quando estiveres de férias.

  • nunorosmaninho 17:41 on 19/07/2017 Permalink | Responder  

    Sísifo, Adamastor e tudo – Seia-Valezim (Loriga)-Torre, 15 de Julho de 2017 

    Este título almadiano, de tão leve aparência, ri-se do esforço violento. O leitor, indiferente aos pormenores, só quer saber se os ciclistas chegaram à Torre. Sim, mas a serra encrespou-se como o Adamastor e fez de quase todos eles pobres Sísifos. Quase todos?, pergunta o leitor atento. Algum enfrentou aqueles penhascos sem tremer? Sim, o Rúben. Fez tudo muito lampeiro e, quando lhe apetecia, empregava o dobro da velocidade, ousando voltar atrás nas piores subidas e disputando o troço final com um comparsa de ocasião.

    Nesta terceira incursão à serra da Estrela, formaram-se dois grupos. O Rúben, o Informático Motard, o Periglicófilo e o Escrivão foram por Seia, São Romão e Valezim, passando à margem de Loriga. O Informático Ferroviário e o Vendedor seguiram de automóvel até Manteigas e aqui fizeram o caminho do glaciar. Cada um escreverá as suas impressões. Só tento apanhar a ideia geral. Ao grupo de Loriga, chegaram duas notícias dos colegas: primeiro, que já tinham partido; segundo, que o Ferroviário talvez ficasse no promontório rochoso.

    O Escrivão manteve sem quebras o discurso de caçador, que a a canícula legitimava. O Adamastor iria ser encarado entre as 12 e as 14 horas, com temperaturas acima de trinta graus. Para o superar, a táctica consistia em seguir sempre devagar ou, em linguagem futebolística, jogar com um autocarro à frente da baliza. Depois de Valezim há uma rotunda, e daqui até ao cruzamento com a estrada do Sabugueiro apresentam-se nove ou dez quilómetros que os cuidadosos ciclistas planificaram em três segmentos. A inclinação varia entre os dez e os catorze por cento. Mas o último, santo Deus!, como é possível fazê-lo sem desistir? O Rúben foi captando em vídeo o estado dos ciclistas. Em quase todos aparece o Escrivão a dizer: Isto afinal é fácil! Raivas de quem vai cansado. Desesperos de quem anseia por ladeiras de nove por cento para descansar.

    A chegada ao cruzamento teve alguma coisa de heróico. O Adamastor estava batido, mas a viagem ainda não terminara. O Periglicófilo dizia que Loriga nunca mais, e foi-se distanciando até à Torre. O Motard arrependeu-se de ter feito o Moinho do Pisco dois dias antes em 26 minutos e pouco, e foi logo falando na próxima subida pela Covilhã. O Escrivão dizia que só queria chegar à Torre, e depois se tratava da Covilhã. Nunca vi tanto respeito pela serra. O Rúben seguiu em grande velocidade até ao topo.

    Escassas centenas de metros antes da Torre, o Motard gritou de contentamento quando viu o Ferroviário. Afinal, não suspendera a ascensão, apenas tomara balanço. Lá em cima, estavam já o Vendedor, o Rúben e o Periglicófilo. Beberam muita água e coca-cola, tiraram fotografias e caminharam pouco. As pernas presas davam-lhes um andar estranho, que o Rúben se esqueceu de filmar.

    No início da jornada, que demorou três horas e quarenta e oito minutos aos de Loriga, o Escrivão chegou a manifestar a intenção de se sentir vaidoso se chegasse à Torre, isto na condição de ninguém dizer ao senhor Vasconcelos. Os colegas prometeram logo o contrário. Afinal, tudo se dissipou. Em pleno esforço não há lugar para a vaidade. O Escrivão sobreviveu e quando terminou apenas sentiu alívio.

    O prazer do descanso manifestou-se na descida para Manteigas, onde abunda a água que falta na encosta de Loriga. O Ferroviário fez o favor de sinalizar uma torrente fresquíssima onde se encheram os cantis. O repouso propriamente dito aconteceu na esplanada do restaurante, passava já das três da tarde. O calor de 34 graus (estimativa) amodorrou os ciclistas que, um a um, foram confessando a vontade de dormitar. Em vez disso, apanharam os automóveis e regressaram a casa. Duas horas de viagem. Lá longe, em Trás-os-Montes, o Jorge, o Gonçalo e o Vítor estavam estendidos no hotel a ver a Volta à França pela televisão e a pensar que seria com este calor brutal que no dia seguinte fariam a prova de 157 quilómetros e quase 3300 metros de elevação acumulada.

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  • nunorosmaninho 14:56 on 14/07/2017 Permalink | Responder  

    As lamúrias do caçador 

    Havia expectativa e pressa nos meses que antecederam estes dias. Bruscamente, veio o Verão, o calor, as tardes longas, as grandes voltas, mas não o tempo para os treinos metódicos e aplicados à finalidade da serra. Chegou Julho. O Periglicófilo melhorou, o Informático Motard empreendeu as conhecidas investidas no Moinho do Pisco. O Vendedor decidiu enfrentar o glaciar do Zêzere. O Informático Ferroviário não conseguiu ultrapassar os impedimentos profissionais. O Físico e o Enólogo nem querem ouvir falar na serra da Estrela. O Escrivão entrou na fase das lamúrias.

    Desconheço se já expliquei o significado das lamúrias no ciclismo. Lamúrias de caçador são aquelas falsidades que alguns ciclistas emitem para fazer crer aos outros que estão em má forma e muito contentes ficariam se pudessem ao menos acompanhar o pelotão. Nessa conformidade, resguardam-se no início do expedição e vão medindo argutamente o estado físico dos companheiros. Quando os quilómetros começam a pesar nos que vão na dianteira e ele percebe que se pode superiorizar, passa para a frente e ataca. Na gíria do ciclismo amador, são os caçadores. Agradeçam a explicação ao Jorge e ao Gonçalo.

    Como diziam as velhas da minha infância, segue-se que o Escrivão passou o mês de Julho em lamúrias, que aumentaram de tom após a subida pelo Sabugueiro. Estará a treinar para caçador?

     
    • Rui Godinho 15:59 on 14/07/2017 Permalink | Responder

      Treinar para caçador?! Há muitos anos que o Escrivão é caçador, se bem que não assumido. Mantém-se quase sempre na cauda do pelotão, ou no meio, de vez em quando aflora a cabeça do pelotão (às vezes com belos esticões), mas rapidamente volta a um certo conformismo para com a modorra do pelotão. Não tenho dúvidas que a qualquer momento saltaria em definitivo para a frente e ninguém mais o veria. Mas nem na cabeça do pelotão se mantém por muito tempo. Tenho para mim que é, essencialmente, por modéstia, para não demonstrar as suas verdadeiras forças.

      • nunorosmaninho 20:42 on 19/07/2017 Permalink | Responder

        Aceito tudo, menos as forças ocultadas pela modéstia. Ser mediano e modesto seria um defeito cómico. Em Os Buddenbrook, Thomas Mann descreve um pobre homem que, vendo-se em casa de pessoa importante, metido numa multidão que se apresentara em cumprimentos, se mantinha ocupado a cuidar dos gestos para causar boa impressão. E tanto desvelo punha nisso que o narrador foi obrigado a revelar que ele, na sua estultice, não reparara que ninguém olhava para ele. Infelizmente, não tenho categoria atlética para ser modesto. Até para ser modesto é preciso treinar…

  • nunorosmaninho 13:13 on 10/07/2017 Permalink | Responder  

    Allegro con spirito 

    Para trepar a serra da Estrela por Loriga, já não podemos contar com a companhia do Jorge, do Gonçalo e do Vítor, que estarão em Trás-os-Montes a realizar uma extensa e árdua prova de 125 quilómetros e quase 2800 de desnível acumulado, se não me engano. O Periglicófilo encontra-se indeciso, por falta de dentes na bicicleta e pela possibilidade de acompanhar o Vendedor e o Informático Ferroviário na encosta de Manteigas. Por estes dias, o Informático Motard deve andar, firme, a subir vezes sem conta o Moinho do Pisco. O Escrivão aprendeu ontem que o muito pode ser pouco.
    No dia subsequente à ascensão pelo Sabugueiro, o Escrivão pediu ao Motard que lhe enviasse uma imagem da chegada à Torre. A fotografia chegou com a seguinte pergunta: estás bem? Por ser verdade, o Escrivão respondeu que sim, que não lhe doía nada e que o mais certo seria regressar à bicicleta ainda nessa tarde. E acrescentou ideias bizarras de treinar às seis da manhã. «Se não for assim», concluiu, «duvido que Loriga se deixe subir.»
    Com efeito, o medo de Loriga levou-o para a estrada na tarde de domingo. E não foi para passear. Girou no território plano de Ílhavo aceitando o vento como uma bênção, uma compensação pela falta de ladeiras. Ao fim de uma hora e quarenta minutos, procurava por todos os meios a exaustão. Circulava a trinta e dois à hora, encostado ao guiador, na floresta que conduz à Vagueira. A média da corrida solitária ia nos vinte e oito. Os carros passavam e quando vinham de trás ouvia-se tanto o motor como a zoeira dos pneus. Certa vez, ouviu com mais nitidez pneus que se aproximavam mas demoraram a ultrapassar. E logo a seguir percebeu um vulto à sua esquerda. Era um rapazinho de quinze anos, montado numa bicicleta de todo o terreno com pneus grossíssimos, que assim, sem esforço, mostrava a pouca força do Escrivão.
    O Escrivão viu que tinha de treinar mais. O rapaz ficara em terceiro lugar numa prova realizada na véspera em Vagos? Desculpas que não movem montanhas…

     
  • nunorosmaninho 14:32 on 09/07/2017 Permalink | Responder  

    Não liguem ao ar festivo – Seia-Sabugueiro-Torre, 8 de Julho de 2017 

    Tão rápido é o tempo que, sem sentir o intervalo dos dias, estávamos outra vez na serra da Estrela. O Gonçalo, em repouso nas delícias da Figueira da foz, foi substituído pelo Vítor, que marcou assim a entrada nas viagens cíclicas. Esta constituiu a única alteração na equipa. Lá estava o Jorge com a sua muito amada Pinarello, o Periglicófilo com uma cassete de vinte e cinco dentes, o Informático Motard com um activo de três subidas ao Pisco e este Escrivão com falta de treino quando ele era mais necessário. A carrinha e o automóvel ficaram no adro da igreja de Paranhos da Beira, junto ao qual há um café onde conversaram e foram muito bem atendidos. Basta uma camisola do Benfica e outra do Sporting para criar empatias e dissensões amigáveis.

    Chegar à Aldeia da Serra foi apenas difícil. A inclinação bruta apanha os ciclistas no início da jornada. Atingir o Sabugueiro teve a proporção das coisas custosas mas que se encerram em uma hora e quarenta e cinco minutos. Daqui para cima, abateu-se o que é penoso e extenuante por ser íngreme e durar outras duas horas. O Vítor e o Jorge puderam andar sempre para cima e para baixo, mas os outros três sofreram os ritmos, lutaram para manter a bicicleta em movimento, sentiram a violência de todas as inclinações acima da Lagoa Comprida e chegaram à Torre a perguntar como poderão subir por Loriga dentro de uma semana. Um dos preocupados era este vosso criado, a quem o trabalho vedará a possibilidade de treinar.

    Não liguem ao ar festivo das fotografias e dos vídeos que ilustram esta nota. Mesmo a aceleração na Torre, que o Motard empreendeu com sucesso, acabou numa volta lenta e quase desfalecida à rotunda. Em compensação, quando os cinco se viram sentados na esplanada do restaurante do Sabugueiro, à sombra, a tomar bebidas frescas, a petiscar azeitonas, morcela, chouriço e farinheira, a comer febras com arroz, a tomar café e a rir do cansaço, sentiram-se dignos desses prazeres, merecedores do repouso e preparados para o próximo desafio.

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  • nunorosmaninho 20:06 on 07/07/2017 Permalink | Responder  

    Foto da Estrela por Manteigas 

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  • nunorosmaninho 15:42 on 06/07/2017 Permalink | Responder  

    A vaidade dos outros 

    Esperei vários dias que o senhor Vasconcelos me respondesse. Não me respondeu nem deixou recado ao Maneco. E eu não li. Até hoje, antevéspera da segunda subida à Torre. Passei os olhos pela subtileza do autor, que não pôde escrever sobre a vaidade sem falar de si, nem dedicar o livro ao rei sem lhe assegurar a virtude da modéstia. Comecei a admirar-lhe a fineza de espírito quando pediu licença para mostrar que se até na vaidade há excesso, esse excesso pode encontrar-se na aparente ausência de ostentação pessoal. A vaidade trabalha para se esconder, mas há-de revelar-se em pormenores grandiloquentes. Vou na página sete e já o meu espírito se baralha: «alguns homens há, em quem a vaidade é misteriosa, e esquisita; porque consiste em desprezar a mesma vaidade, e em não fazer caso dos motivos, em que se funda a vaidade dos outros.» Ainda não percebi como se sobe a serra da Estrela a partir das Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens. E agora também já não sei como escrever.

     
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