Updates from Outubro, 2014 Toggle Comment Threads | Atalhos de teclado

  • nunorosmaninho 12:24 on 03/10/2014 Permalink | Responder  

    A Fátima dos ímpios – Caxarias, 2 de Outubro de 2014 

    Falta aqui o Paulinho, o autor deste portentoso instantâneo.

    Falta aqui o Paulinho, o autor deste portentoso instantâneo.

    Quão vãos são os desejos humanos! Queríamos descidas e houve poucas. Ansiávamos pela nortada amigável e saiu-nos um suão constante. Antevíamos a perfeição das máquinas e o Escrivão viu-se com um pneu torcido e três vezes inchado. Achávamos que bastava substituí-lo e foi preciso trocar o próprio pneu sobresselente. Aspiramos à segurança e tivemos camiões sugando-nos nas ultrapassagens. Preferimos sossego e só o obtivemos depois de Condeixa. Desejávamos beleza natural, estradas perfeitas e pouco trânsito e tudo tivemos por fim até Ansião. Idealizámos um dia harmonioso e recebemos sol resplandecente e trinta graus de temperatura.
    O encontro fez-se em casa do Periglicófilo, às oito e meia. Quando o Telmo chegou com o Escrivão, já lá estava o Alcédix que há longas semanas abandonou as viagens de domingo. O Paulinho e o Tó aguardavam na Mealhada. Bastaram dez minutos para o Escrivão perceber que escolhera mal a mochila. Valeu-lhe um arame. O mesmo arame que se presta a alguns energúmenos para derrubar ciclistas serve a outros ciclistas para ajustar as mochilas ao nobre e nunca por demais dilatado peito.
    Da Mealhada a Coimbra e daqui a Condeixa, o caminho fez-se pelo horrendo IC2, que a ninguém se recomenda. A subida após Coimbra foi um primor de sacrifício para o Alcédix, cuja poção se reduziu a uma banana. Na dita Condeixa, passámos em frente do mui belo solar dos Figueiredos, mas já a pensar na Bike Shop onde a bicicleta do Escrivão haveria de ser regenerada duas vezes: a primeira acabou-lhe com as protuberâncias indesejadas e a segunda, depois de dois quilómetros para a frente e dois para trás, permutou um pneu sofisticado (mas dado a abrir onde não deve) por outro provido de poderosa estrutura e uma distinta risca azul.
    Depois, veio o suão e o cansaço. O calor. O almoço. Subidas. Descidas. Boas velocidades. Os quilómetros totais passando a oitenta, noventa, cem. Fátima cada vez mais perto. Outra inclinação. O Alcédix não se negou ao esforço, mas as pernas sim. Fátima estava perdida. Os ímpios ficaram a dezanove quilómetros do santuário.

    Reparem que converti a parábola do Gravier num princípio, e isso exclui mil pormenores. Não vi (e não contei) Alcédix parando numa descida e arrostando no chão as penas do seu cansaço. Foi isso a sete quilómetros das Caxarias. Parece que alguém se pôs na estrada, como nos filmes, abanando os braços aos automobilistas. E assim o Alcédix chegou de carro à estação ferroviária, enquanto o Paulinho manobrava duas bicicletas para espanto dos indígenas. O Escrivão deu enfim uso à sua pesada mochila, trocando de roupa e sapatilhas. Sentiu-se remoçado. E talvez tolo por tanta carga para tão pequeno benefício.

     
    • ruigodinho1962 21:22 on 07/10/2014 Permalink | Responder

      É da minha vista ou os barrotes estão tortos?!
      Isto é como quem diz: será que sonhei ou havia partes no texto que evaporaram?!
      Mas eu acrescento…
      Lembro-me bem de quando sentimos que a vingança se serve fria! Foi lá numa das muitas pequenas localidades que atravessámos. O cão que dormia o sono dos justos numa espécie de largo. Ali à mão de pagar por todas as ladradelas de todos os cães que nos têm apoquentado nas nossas viagens. Alguém usou dos seus conhecimentos no mundo da linguística e ladrou alto e bom som ao descontraído patudo. Acordou estremunhado como se o mundo estivesse a desabar, girando a cabeça numa volta de 360º várias vezes repetida. Procurava provavelmente por algum da raça dele. Passou os olhos pelo cicloturista ladrador mas nem o viu! Estava consumada a vingança. Num cão que se decerto nunca ladrou a nenhum ciclista, mas, já diz a sabedoria popular, pagou o justo pelo pecador. E o ciclista lá seguiu, rindo como o Mutley das Máquinas voadoras.
      Também pensava ter visto referências a um tal monovolume, algo parecido com um jipe. Foi grande o barulho que fez! Mas nem se pode dizer que tenha sido o próprio veículo a emitir os sons!… Quem diz que os homens é que são os atrevidos por se meterem com as mulheres?!
      Igualmente interessante uma conversa a três, à porta de uma fábrica de solipas de cimento, enquanto esperavam por desenvolvimentos no núcleo mais retardatário do pelotão. Alguém estranhou que a Senhora de Fátima não possibilitasse a chegada de todos a bom porto, visto que tão devotadamente se haviam disposto a semelhante percurso. Logo alguém contrapôs, colocando em causa a verdadeira religiosidade de todos os ciclistas do grupo e alegando que provavelmente a dita Senhora não estaria muito convencida a receber um grupo tão heterogéneo e de crença duvidosa nos seus milagres.
      Vamos ver se consegue fazer o milagre de sábado estar bom para nova tentativa.
      Por mim, a minha bicicleta já tem sapatos novos. E se brincávamos com as riscas azuis da roda da bicicleta do escrivão, eis senão quando hoje me aparecem à frente duas rodas iguais a essa!!!

  • nunorosmaninho 18:31 on 10/08/2014 Permalink | Responder  

    O lugar dos ciclistas – Cantanhede e Pena, 10 de Agosto de 2014 

    As perfeitas lembranças de Camões, Aquilino e Mann impediram a menção a factos mais triviais e menos honoráveis. A maioria dos automobilistas encara com paciência os ciclistas de domingo. Alguns, previdentes, chegam a prescindir magnanimamente da prioridade nas rotundas. Há porém um grupo restrito que não se conforma. Os condutores desta espécie crêem como numa religião que as estradas pertencem aos automóveis. No passado domingo, o piloto de um carro medíocre premiu com fúria a buzina durante dezenas de metros e traçou com as bicicletas uma tangente temerária para mostrar quem manda. O Escrivão gritou-lhe impropérios. Os ciclistas iam dentro da ordem e circulavam numa recta com um quilómetro, deserta. Hoje, em Torres, um apito impertinente arreliou outra vez o Escrivão. Logo a seguir, na Fonte Errada, zangou-se por todos o Lenhador, que manteve uma discussão escabrosa com que salvou a honra do grupo. Estes factos não prejudicaram a disposição. As ausências do Físico no norte e do Periglicófilo e do Paulino no sul foram supridas pela apreciável assiduidade do Telmo e pela venturosa comparência de Alcédix. Contactado por telemóvel, o Miguel Botelho deixou a promessa de em breve se tornar o rei das natas de Cantanhede. Saiu cá um político…

     
  • nunorosmaninho 17:17 on 03/05/2014 Permalink | Responder  

    Dia homérico – Praia de Mira, Pocariça, Luso, 1 de Maio de 2014 

    Dia longo e heróico. Dia de combate. Dia ruidoso e quente. Alcédix reveio, ofereceu as natas em Portomar, mandou tirar fotografias e bateu-se com energia. O Lenhador manifestou um desvelo inquietante pelo almoço. Guardou as três alheiras autênticas, preparadas pela mãe do Físico. Os frangos estão encomendados? E o pão? E o presunto? Com um ruído imenso, os ciclistas abordaram a esplanada, discutiram o clubismo de Alcédix, posaram para o retrato e decidiram ir à praia. O Informático, em estado de prontidão técnica, obteve as condições para essa deslocação, que atirava a volta para os oitenta quilómetros. O Lenhador barafustou e foi. E regressou, como todos os outros, por Santo André e Pocariça. Iam os sete rapagões numa pedalada certa quando passou um desportista veloz debruçado no guiador. O Paulinho não ouviu o seu cordial cumprimento. E já ele quase desaparecera no horizonte, decidiu que não era tarde para lhe dar uma lição. Convidou o Escrivão, que não viu motivo para tanto, e, sozinho, partiu à desfilada no seu encalço. Seguiram-no o Periglicófilo e o Informático. Cá atrás, rolando, com vento favorável, a trinta e oito quilómetros por hora, os quatro retardatários viram-nos encurtando distâncias para o fugitivo até o alcançar. Foi o acontecimento do dia, a que estas magras palavras não prestam justiça. Perto da uma da tarde, transpuseram o portão da real adega do Lenhador.
    Aqui decorreram as três horas seguintes, que o bom senso me impede de relatar com o pormenor que os leitores desejariam. Posso garantir que pouco se disse sem ser aos berros. Não houve conversa cordata mas discussão violenta, naquela ritualização que já em tempos mencionei. Um espectáculo maior, áspero, veemente, escabroso, onde tudo é proferido com gáudio mas a mal, violentamente, ofendendo, destruindo, vilipendiando. Assim se comeu o frango e as alheiras, assim se bebeu o champagne, assim se discutiu a falta de travessas, de cadeiras e de café, assim se pôs à sorrelfa um banco do Lenhador na carrinha do Patrocinador, que em boa hora veio confraternizar. A vozearia, acrescentada por mais um elemento da tertúlia do Avelino dos Leitões, atroou meia aldeia. Com esta máscula jovialidade, chegaram as dezasseis horas.
    «E se fôssemos ao Luso?» – perguntou o Paulinho. O Lenhador mandou-o passear, o Periglicófilo tinha um compromisso e o Alcédix já cumprira a sua missão. O sol, ainda firme, convidava à prorrogação da viagem. Os oitenta quilómetros da manhã pediam mais trinta. E lá foram pela estrada nacional até à Mealhada. O Físico escalou com bravura a Lameira de São Pedro. Aqui mesmo ficou merecendo o prémio de combatividade. Para não dilatar mais o relato, cumpre-me referir que o regresso se fez por Vila Nova de Monsarros. Em Anadia, ficaram o Físico e o Informático. Em Tamengos, parou o Escrivão. Para Sepins, seguiu o Paulinho. Bem, o Escrivão ainda deu duas voltas nas avenidas novas, foi a Ventosa, subiu por Arinhos, continuou até Vilarinho, contornou a rotunda da zona industrial, voltou por Horta e Mata, fez mais três voltas na Curia e, sendo quase noite, pareceu-lhe apropriado parar.

     
  • nunorosmaninho 12:57 on 08/10/2013 Permalink | Responder  

    O regresso de Alcédix – Cantanhede, 6 de Outubro de 2013 

    Alcédix vai regressar à Gália. Mas refeito da queda, participou na incursão de hoje às natas de Cantanhede. Passadas as desgraçadas eleições autárquicas, também o Físico integrou as hostes que desbarataram meia dúzia de pastéis agrupados em formação que não me pareceu de tartaruga. Não foi por medo que o Físico e o Escrivão ficaram para trás, apenas se perderam no entusiasmo das incidências eleitorais. E de qualquer modo chegaram a tempo de os massacrar meticulosamente com café e canela. Depois da vitória retumbante no campo da Nova Cidade, o retorno a casa foi realizado sem ordem nem método. Como é típico nos mancebos, ouviram-se gracejos às moças. O Escrivão furou. O Físico seguiu para cumprir as horas e o Periglicófilo realizou a obrigação de não o deixar sozinho. O Paulinhus, não sei porquê, voltou a ficar em Sepins. Enredado pelo Informatix, Alcédix viu-se a subir de Ventosa para Arinhos. O périplo fechou-se no Patrocinador. Quatro caçadores bebiam à volta de uma mesa e explicavam a melancólica falta de caça.

     
  • nunorosmaninho 17:31 on 21/09/2013 Permalink | Responder  

    O indómito gaulês – Febres, 15 de Setembro de 2013 

                Os venerados leitores conhecem Astérix, de bigode farto, baixo, enérgico, impulsivo, o terror dos romanos? Há semanas, baixou da Gália aos pâmpanos da Bairrada e trouxe uma bicicleta. Encobriu-se com o nome de Alcides e prometeu entrar nas viagens de domingo. Uma vez o disse, segunda vez o repetiu, terceira voltou a prometer e à quarta apresentou-se em casa do Lenhador. A máscara caiu-lhe ainda antes de Covão do Lobo quando saiu da retranca do pelotão e, com a sua legendária bravura, se distanciou dos outros cinco atónitos ciclistas. Organizada a resposta, foi a fuga anulada. E mal o reagrupamento se concluíra, o valente gaulês, ainda distraído pelo vigor da acção, manifestou um desequilíbrio ligeiro, a mão direita escorregou do ombro do Lenhador e, a mais de trinta por hora, a queda foi dura e dolorosa, o antebraço raspando longamente pelo asfalto. Acudiu o Patrocinador, na pessoa do Fernando Manuel, que em vinte minutos o recolheu e conduziu ao hospital. No acto de estancar o sangramento, um relance detectou no pneu traseiro do Periglicófilo um tal estado de exaustou que a cautela o obrigou a recolher a casa na mesma boleia.

                Os quatro atletas restantes deram meia volta, o que com o Paulinho significa sempre ir a Cantanhede para evitar as ladeiras mortificantes. Na rotunda seguinte ao local do acidente, viraram à esquerda para Febres, e prosseguiram por caminhos pouco habituais. O Informático e o Escrivão ainda passaram pelo Patrocinador à procura de novidades que só chegaram depois da uma da tarde. O Informático, aparentado com o arrojado gaulês, confirmou a rijeza da raça, que doze pontos não abalaram:

    – O homem já está em casa a comer e bem-disposto.

    O Informático só não disse se o almoço era javali e se Obélix estava presente.

    Ainda se lembram do padre que comia ameixas? O Paulinho pede para acrescentar que o mesmo pastor, noutra procissão, abandonou a ordem ritual para repreender um automobilista que, tendo parado para deixar passar o cortejo, manteve o motor a trabalhar. Parece que o ruído incomodava mais que a quebra do protocolo.

     
  • topedrosa 14:55 on 25/08/2013 Permalink | Responder  

    Portomar, 25 de Agosto de 2013 

     
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