Vista da ponte de pau – Gafanha d’Aquém, 17 de Dezembro de 2023

  • Gafa

            Na viagem ao Egipto, o jovem Eça de Queirós observou as variações atmosféricas como um quadro, de cujas cores, luz e transparências nascia uma beleza agradável aos sentidos. Ainda não tinha trinta anos quando, ao narrar as Singularidades de Uma Rapariga Loura, deu limpidez à descrição de uma moeda de ouro rodopiando sobre a mesa, fez presente a morte de um fidalgo numa tourada já remota e viu o céu  sob o qual passeámos de bicicleta neste domingo.

     O dia estava de Inverno, claro, fino, frio, com um grande céu azul-ferrete, profundo, luminoso, consolado.

– Que bonito dia! – disse Macário.

Os amigos, que vieram dos fornos do Patrocinador, pela Mamarrosa e Bustos, deram uma volta à praceta e exclamaram:

– Eh, pá! Estás bom?

Como eu já os esperava à porta de casa, dirigimo-nos logo para norte e, chegando a uma certa rotunda, em vez de seguirmos para dentro de Ílhavo, passámos a ponte no sentido da Gafanha d’Aquém. Pensara maduramente nas três tristes natas comidas nesta terra de bacalhau. Era imperioso mostrar que também aqui se comem boas natas, o que, na verdade, sucedeu.

Ficámos entretidos a conversar sobre os roubos que pessoas inesperadas ousam fazer em nossa casa, sob os nossos olhos, quase na nossa presença. Tomei conhecimento de que se apreciam os éclairs em Ançã, onde também existe uma bonita praia fluvial.

 – Agora, vamos por ali e damos a volta – propôs o Vendedor.

Pedalámos um quilómetro para o litoral, escolhemos a estrada para a Vagueira e, muito antes desta praia, apanhámos a recta que nos conduziu à ponte de pau da Vista Alegre, onde nos demos a uma fotografia. Eu levava um impermeável amarelo, mas retirei o para que o meu equipamento vermelho equilibrasse as riscas verdes e brancas do Periglicófilo e do Vendedor. O físico não entra nestes clubismos a menos.