Updates from Abril, 2015 Toggle Comment Threads | Atalhos de teclado

  • nunorosmaninho 12:24 on 29/04/2015 Permalink | Responder
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    Termina a corrida e o almoço 

    Anastácio bem reparava na pressa de certos comensais e por ela imaginava a impaciência dos leitores. Quis ser exacto. E foi.
    – Ali por Óbidos alguns ciclistas, entre os quais Manuel Prior, começaram a atrasar-se. Em Alfeizerão, só resistiam quatro na frente da corrida: Carvalho, J. Francisco, Quirino e Carlos Simões. Agora, havia tudo menos ronha. Os dezoito quilómetros da subida foram percorridos a 40/45 quilómetros por hora. Mesmo assim, António Augusto de Carvalho, do Belenenses, não deu tréguas e foi dando esticões até se isolar. Passou sozinho em Leiria e prosseguiu a um ritmo «formidável» até Coimbra, onde ganhou com grande mérito no tempo de nove horas e quinze minutos. João Francisco, também do Belenenses, fez 9h24m09s. O terceiro foi Quirino de Oliveira, do Campo de Ourique, com 9h32m50s.
    – Então e o Joaquim Rosmaninho? – Creio que foi o Primeiro Informático que fez a pergunta.
    – Em Pombal, Manuel Prior já tinha desistido e Joaquim Rosmaninho levava dez minutos e trinta segundos de atraso. Ouvi dizer ao jornalista de A Voz Desportiva que «os três que desistiram (Prior, Rosmaninho e Carlos Simões) são elementos para fazer sem dificuldade de maior o Lisboa-Coimbra. A sua preparação tinha sido cuidada mas a disputa da corrida veio apanhá-los em dia de má disposição. Para a outra vez será…»
    – Cá para mim – comentou o Físico –, Joaquim Rosmaninho dedicou o Verão às vitórias na Curia e em Anadia.
    – Tem o senhor toda a razão – reforçou o Maneco. – Só não entendo por que é que o Joaquim não está aqui connosco. Olhem que gostei muito de ouvir o Anastácio. Mas porque não escutámos também o Joaquim?
    A isto, ninguém soube responder.
    – O senhor Maneco tem de dizer à dona Águeda que a chanfana e a aletria estavam um primor. Ainda que viva até ao século XXI, não me esquecerei.
    Quem isto garantia era o Lenhador, muito sério, muito convincente.

    • Homem! Diga-lhe isso. Ó Águeda!

    E ela veio, com bom sorriso, receber os elogios.

     
  • nunorosmaninho 10:48 on 28/04/2015 Permalink | Responder
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    Dos esticões e da ronha 

    – Na corrida Lisboa-Coimbra, houve de tudo – prosseguiu o Anastácio –: quedas, furos, esticões, ronha, alta velocidade, fugas e uma grande vitória que, como sabem, não pertenceu ao Joaquim Rosmaninho. No início, Quirino e Lopes puseram-se à frente a regular o andamento. E assim foram andando até o Rosmaninho dar um esticão. Os adversários acompanham-no. O Rosmaninho tentou outras vezes, tal como Quirino e Carvalho.
    – Grande animação para começar – disse o Periglicófilo.
    – Realmente, as coisas começaram bem, mas não havendo fugas entrou-se na fase da procissão.
    – Aos esticões, seguiu-se a ronha. Está-se mesmo a ver.
    O Anastácio poisou a colher com que ia sorvendo a aletria e, voltando-se para o Periglicófilo, sentado do outro lado da mesa, concordou.
    – Assim, até eu era ciclista! Conversa amena, boa disposição, brincadeiras do Arménio com o público, velocidades de 5 quilómetros por hora a subir, 10 no plano e 15 a descer… Bem vê! A ronha durou até Alfeizerão, apesar de à entrada de Torres Vedras, a rapidez ter aumentado para 30/35. Nas Caldas da Rainha, no meio de uma multidão entusiástica, o Quirino fez um bom sprint e ganhou a medalha de ouro. Mas foi nos dezoito quilómetros da subida de Alfeizerão que a corrida se começou a decidir.
    Anastácio parara definitivamente de comer e ia narrar o resto da corrida sem se interromper.

     
  • nunorosmaninho 13:40 on 20/04/2015 Permalink | Responder  

    Meditação sobre a Serra da Estrela – Moinho do Pisco, 20 de Abril de 2015 

    O tradutor de António Luís, talvez irritado com a personalidade do humanista, viu jactância erudita e vaidade pessoal no manuseio complexo da língua latina. Ora, nem uma coisa nem outra me aborrecem. A vaidade é um curioso espectáculo e a erudição não passa de um banquete onde nos servimos conforme o apetite. Um leitor fortuito das viagens cíclicas, reconhecendo o meu entusiasmo pelo médico lisbonense, emprestou-me outra obra dele com o perfeito título de Cinco Livros de Problemas. Hoje, só pretendo usar nove palavras com as quais qualifico a dedicação dos ciclistas nesta manhã: «Deu o bastante quem deu tudo o que tinha.»
    Palavras bonitas, exageradas, complacentes. Cuidado com a soberba! Para subir a Serra da Estrela, aquilo não chega. É preciso ir além e dar mais do que pensavam que tinham. O Escrivão e o Segundo Informático foram ao Moinho do Pisco com o pensamento na Serra da Estrela. Obedecem a um plano delineado por este último, o único do grupo a ter no seu currículo a gloriosa ascensão à Torre: trepar a ladeira do moinho uma, depois duas, a seguir três e por fim quatro vezes seguidas, com o que tornarão equivalente o esforço do monte com a dificuldade da serra. Veremos se chega. Por agora, as coisas correram do seguinte modo.
    O Escrivão dirigiu-se a Avelãs de Caminho sem aproveitar a sucção dos camiões, limitando assim a picos de quarenta quilómetros o que há um mês fez a cinquenta por hora. Deus lhe conserve o siso que hoje teve. Na verdade, houve um camião na descida. Apareceu de um caminho de terra batida onde fora carregar madeira, lançou lascas e ciscos curva após curva, nunca andou mais do que as bicicletas e portanto só atrapalhou. Mas isto pouco importa.
    A substância da manhã esteve na subida, rigorosamente cronometrada pelo Segundo Informático que a conhece palmo a palmo. Ele estabeleceu o ritmo, ele cronometrou com júbilo o primeiro terço do percurso, ele transmitiu o entusiasmo quando a meio viu que as coisas iam bem, ele acelerou enquanto pôde, ele viu que a corrida podia estar ainda melhor do que parecia, ele chegou aos últimos quatrocentos metros e mandou o Escrivão sprintar. E o Escrivão sprintou. E o que tenho para dizer aos colegas das viagens cíclicas é que a Serra da Estrela ficou mais perto, porquanto a ascensão se cumpriu em vinte e seis minutos. Escrevo por extenso para que fiquem com a certeza de que não há engano. Na próxima oportunidade, em vez de António Luís, cito Séneca.

     
    • ruigodinho1962 14:06 on 20/04/2015 Permalink | Responder

      Estou a ver a minha vida a andar para trás!!!…

      • nunorosmaninho 14:19 on 20/04/2015 Permalink | Responder

        O Escrivão, que está ali a ler coisas, diz que não tem culpa nenhuma. O estratega da corrida foi o Segundo Informático. Ele que se explique.

        • silva1t 14:46 on 20/04/2015 Permalink | Responder

          Como informático resta-me esperar que a subida à torre seja feita com a mesma determinação e método que o desenho de um algoritmo assim exige!!…

    • nunorosmaninho 14:52 on 20/04/2015 Permalink | Responder

      Concordo com a noção e vejo nela um largo alcance. Quando me sentir cansado, não vou pensar na falta de treino. Vou culpar a matemática.

      • silva1t 15:39 on 20/04/2015 Permalink | Responder

        Aqui fica a dimensão do problema para uma melhor elaboração do algoritmo que permita a sua resolução:
        http://tinyurl.com/ngwelw4

        • nunorosmaninho 15:51 on 20/04/2015 Permalink | Responder

          Ora, muito bem. O problema põe-se nos seguintes termos: 51,29 quilómetros de distância nos quais subiremos 2128,66 metros e desceremos 574,56 metros, saindo de uma altitude de 175,55 metros e alcançando, se as forças não faltarem, 1985,13 metros. Sejamos claros. Não há algoritmo que nos salve!

    • topedrosa 16:41 on 20/04/2015 Permalink | Responder

      O meu algoritmo é um pouco mais simples, é chegar lá 🙂

      • silva1t 17:55 on 20/04/2015 Permalink | Responder

        A simplicidade no algoritmo é sempre um aspeto a valorizar 🙂

        • silva1t 15:02 on 21/04/2015 Permalink | Responder

          Um estudo um pouco mais detalhado da subida indica que teremos 3 grandes desafios de aproximadamente 5Kms… sendo que do Sabugueiro para a frente estes 5Kms terão cerca de 10% de inclinação… e é isto 🙂

  • nunorosmaninho 13:22 on 20/04/2015 Permalink | Responder  

    Era uma vez – Cantanhede, 19 de Abril de 2015 

    Era uma vez um Lenhador, homem obstinado e colérico, que nos anos de adolescência acordou com um ladrão em casa, ergueu-se com uma faca na mão e, vestido como Tarzan, correu descalço pelos campos até o apanhar e trazer submetido pela força e pela ponta metálica nas costas. Os tempos passaram, ele dedicou-se à bicicleta, manteve o espírito mas concluiu que não podia acompanhar os restantes cíclicos, embora estes, coitados, nunca tenham logrado o feito de capturar um meliante após uma perseguição de dois quilómetros na noite fechada e perigosa de uma aldeia remota do oeste selvagem.
    Era uma vez um Físico que foi para Trás-os-Montes na Páscoa, parou durante um mês e decidiu, com a sua natural nobreza de espírito, voltar na primeira oportunidade. Foi hoje. A sua falta de treino inspirou o Lenhador, deu-lhe confiança, sossegou-lhe os medos e assim se operou o regresso de ambos.
    Era uma vez um Paulinho, a quem falta pseudónimo, que entabulava com o Lenhador as melhores conversas que se podem imaginar, cheias de brilho, calão criterioso, belíssimas frases-feitas e discussões tremendas sobre o conceito, a diferença, o tamanho e o valor do «camarão da Costa» e da cabra-cega.
    Era uma vez um Segundo Informático que no dia 1 de Maio preferia ir ao Caramulo e não à Figueira da Foz e que se opôs sem êxito à reviravolta protagonizada pelo dito Paulinho que, ao insistir na ida à Praia da Claridade, teve o mérito de trazer para a viagem o também supracitado Lenhador. Na sua perspectiva encontra-se, como se fosse já amanhã, o enfrentamento da Serra da Estrela.
    Era uma vez um Primeiro Informático que anda a treinar muito e só coloca as objecções que resultam do seu estado de prontidão profissional nos fins-de semana e dias feriados.
    Era uma vez um Escrivão que conseguiu antecipar no relato do Café Maneco, em particular no trecho da aletria, alguns diálogos realmente ouvidos na esplanada da Nova Cidade. Um Escrivão benfiquista que, desejando contribuir para a planificação da viagem à Figueira, se lembrou de propor o almoço no Núcleo Sportinguista das Abadias.
    Juntaram-se todos na adega do Lenhador às nove horas e rumaram a Ventosa, Barregão, aqui e ali, Campanas, Cantanhede, Pena, etc., enfim, vocês sabem, até que, depois de muito protestar com os homens que frequentam os aniversários uns dos outros, o Lenhador lembrou o seu e abriu a adega aos companheiros, que não abusaram da sua oferta.

     
  • nunorosmaninho 12:58 on 17/04/2015 Permalink | Responder  

    Aleluia! 

    Aqueles ciclistas tagarelas, que tão calados ficaram perante a investida do senhor Vasconcelos, deram enfim a vez ao Anastácio e ele, com poucas interrupções, pôde contar a história da corrida Lisboa-Coimbra realizada na véspera, dia 6 de Outubro de 1929.
    – Serei conciso e tão exacto quanto possível. A prova decorreu com grande lealdade, grande camaradagem e muito público. Para o Manuel Prior e mais dois ciclistas, ela começou com uma queda ainda em Lisboa. A partida dos catorze inscritos fez-se da Praça dos Restauradores, às oito da manhã. Não posso dar todos os pormenores. O Manuel Rijo da Silva foi o primeiro a furar mas não teve de se preocupar porque pelotão ia em «fraternal passeio». Por causa disso, ouvi alguns responsáveis queixarem-se das médias vergonhosas que por vezes se praticavam. Não é só a vitória que conta, diziam eles, também importa a média que a sustenta, porque dá uma ideia do nível atlético dos intervenientes.
    – Sim, senhor! – Concordou o Periglicófilo. – Isso conta. No ano passado, precisei de vinte horas para percorrer mais 235 quilómetros.

     
    • ruigodinho1962 14:26 on 17/04/2015 Permalink | Responder

      Poça! Andava mesmo devagarinho, naqueles tempos!!!…

    • nunorosmaninho 14:30 on 17/04/2015 Permalink | Responder

      Os leitores não sabem, mas aquela velocidade inclui trechos de aquecimento muscular, momentos de conversa, esperas relaxadas e outras circunstâncias atenuantes.

  • nunorosmaninho 09:15 on 16/04/2015 Permalink | Responder  

    Vem a aletria 

    A aletria ainda chegou morna à mesa. Trazia desenhos de canela. Um escrivão mais requintado talvez aludisse ao aroma inebriante.
    – O senhor Vasconcelos não me intimida – assegurou o Anastácio. – Cansa-me. Estava o almoço a correr tão bem… Vamos à aletriazinha, que ainda cá deixei um espaço para ela.
    – E não seria melhor despachar também a I Lisboa-Coimbra?
    – Tem o senhor Físico toda a razão. Venha a aletria, que o resto segue depois.
    O Lenhador já olhava o relógio.
    – Ainda tenho de ir a Coimbra. Mas a dona Águeda até se zangava se não provasse a sobremesa.
    Passava das três da tarde. O Maneco reuniu-se ao grupo e continuava a sorrir.
    – Isso é que levaram um aperto! Este Vasconcelos…
    – Ele é sempre assim? – perguntou o Periglicófilo.
    – Sempre. Mas tem bom coração.
    É nestas ocasiões que melhor se revela a acutilância do Paulinho:
    – Ele e o Lenhador.
    Toda a gente sabe que o Lenhador não se deixa ficar. Tem um rol infindável de respostas. É um Kasparov das conversas. Desta vez, saiu-lhe um clássico e pouco sofisticado «o que tu queres sei eu». O Paulinho não se absteve:
    – Está bem, abelha! Então porque é que tenho de te pedir para me passares mais aletria?
    Até o Segundo Informático, sempre tão cordato, teve de intervir:
    – Calem-se! Deixem falar o Anastácio.
    – Aqui quem pode mandar calar é o senhor Maneco – reagiu o Periglicófilo.
    – Valha-me Deus! – Queixou-se o Escrivão. – Vocês têm a noção do trabalho que me estão a dar?

     
  • nunorosmaninho 12:38 on 15/04/2015 Permalink | Responder  

    O senhor Vasconcelos irrita-se com o janelão 

    O senhor Vasconcelos, o velho e inimitável homem da Mata, que tivemos a desdita de encontrar na loja do Maneco, mandou-nos um bilhete. Tinha de ser. Agradeço a atenção com que nos segue, mas a sua minúcia e rispidez têm tanto de exagerado como de imprevisível. Com que se havia de irritar desta vez? Com uma simples e descuidada palavra. Onde vai buscar tanta acrimónia? O facto de a carta me ter chegado logo após a saída do senhor Vasconcelos leva-me a crer que fora posta no marco do correio há dias ou entregue em mão à avó Águeda, que ma deu quando nos trouxe os pratinhos de aletria. Diz assim:
    «Ex.mo Senhor Escrivão,
    V.ª Ex.cia andou vários dias a falar de um janelão por onde os ciclistas olharam sem nada enxergar. Tem a certeza? Não será antes um postigo? Vá ao dicionário, lembre-se do ancestral vocabulário que ouvia na meninice e diga-me se as lamentáveis figuras em que entrou não se fizeram no estreito intervalo de um postigo. Leia os clássicos. Observe Ramalho Ortigão dissertando sobre o pintor Silva Porto. “Na última exposição da sua obra”, diz ele na revista Arte Portuguesa, “as molduras davam o efeito de postigos de ouro abertos para cima dos mais tocantes, dos mais lindos episódios da natureza rústica, da vida rural da nossa terra.” Está a ver? Infelizmente, na sua pena os postigos são janelões, o ouro mera lata, a rusticidade… Bem, aqui concedo-lhe o favor de reconhecer que gostei de pensar em si e nos seus amigos em cima de uma nespereira, praticando o velho costume de comer a fruta alheia. Eram nêsperas do padre e, portanto, num certo sentido, de toda a gente, a começar pelas crianças, inocentes criaturas de Deus.
    De V.ª Ex.cia Cr.do At.º e Obrig.do,
    Velho Homem da Mata
    PS: Já agora, veja se avança nas histórias do ciclismo. Anda há meses com as provas do Joaquim Rosmaninho em 1929. Durante quantos anos pensa que vamos continuar a aturá-lo?»

     
    • ruigodinho1962 12:51 on 15/04/2015 Permalink | Responder

      É mesmo embirrento, o homem!!!

  • nunorosmaninho 09:40 on 14/04/2015 Permalink | Responder  

    O vasconcélico desenlace 

    Os ciclistas acocorados também poderiam ter respondido ao senhor Vasconcelos:
    – Nós?… Nós estamos aqui, mas só viemos pedir mais chanfana à dona Águeda.
    Infelizmente, o senhor Vasconcelos não era homem de delongas.
    – Triste figura a vossa! Se queriam saber quem era o Vasconcelos vinham à loja e eu vos explicaria.
    Lá atrás, o Maneco ria de forma incontrolada. Os ciclistas estavam pasmados com o insólito da situação. O Anastácio parecia ausente.
    – Vão lá acabar o almoço, que eu tenho mais que fazer. Há três semanas que espero pela vossa versão da corrida Lisboa-Coimbra.
    – Isso quem sabe é o Anastácio – defendeu-se o Escrivão em mau português.
    – Pois – retorquiu ele alargando os braços sobre o balcão. – E quem transcreve as palavras do Anastácio é o senhor.
    Esticado para a frente, não ficava a mais de um metro da cara transida do Escrivão. Obtendo tal efeito, voltou atrás e, fazendo rodar o vasto sobretudo, virou costas, atravessou a rua na direcção da capela de Nosso Senhor dos Aflitos e desceu a ladeira em passos miúdos. O Maneco ainda enxugava as lágrimas do riso quando perguntou:
    – E afinal de onde vos conhece o senhor Vasconcelos?
    O Primeiro Informático já percebera tudo há muito tempo:
    – Acabámos de chocar com o Venerável Homem da Mata!

     
    • ruigodinho1962 10:03 on 14/04/2015 Permalink | Responder

      Oh!… Fiquei a ver navios na mesma!!!…

      • nunorosmaninho 10:14 on 14/04/2015 Permalink | Responder

        A ver navios? Já não te lembras do Venerável Homem da Mata? Ou não te apercebeste que era ele? O Escrivão está pronto para esclarecimentos suplementares. Só temos de ter cuidado porque o senhor Vasconcelos, esse inestimável rezingão, também nos segue aqui.

  • nunorosmaninho 09:26 on 13/04/2015 Permalink | Responder  

    Notícias da serra e das nêsperas – Boialvo, Vale da Mó e Luso, 12 de Abril de 2015 

    Os ciclistas, entusiasmados com a subida à Cruz Alta, pensaram repetir a façanha, mas pareceu-lhes melhor voltar a terrenos planos. Melhor quer dizer preferível em termos tácticos. Há aí um certo Físico destreinado pela gastronomia da Páscoa transmontana. Antes de voltar a arremeter pela montanha acima, é preciso que ele se persuada e treine um pouco.
    Afinal, às oito da manhã esse certo Físico transmitiu a sua indisponibilidade. A Cruz Alta regressou como possibiliade. E aí foi o Segundo Informático que, mesmo tendo verificado o material na véspera, deu conta de que tinha uma roda vazia. O encontro que estava para ser em casa do Periglicófilo transferiu-se para Avelãs de Caminho. E aqui se pôs a questão: onde ir?
    Encaminharam-se para Boialvo, passaram no sopé do Moinho do Pisco e foram subindo (muito) e descendo (pouco) até Vale da Mó e daqui até ao Luso num desnível acumulado de seiscentos e não sei quantos metros. Os profissionais dizem apenas «um acumulado». O Paulinho não esteve nos seus melhores dias, mas tem um filho muito obediente. Bastava perguntar ao Ruben se não podia subir mais depressa, mesmo indo ele na frente, e logo se isolava até desaparecer nas curvas seguintes.
    Esta estrada foi a melhor ciclovia do mundo: hora e meia a pedalar, um automóvel, piso óptimo, subidas persistentes, descidas entusiasmantes, sombras, pinhais, aldeias aqui e ali. Camaradagem ciclística, também houve. Os íntegros elementos das viagens cíclicas deram uma câmara-de-ar a um colega de Vagos e este, depois de verificar que o problema de um amigo estava no pneu (e era irremediável), correu com alma para a devolver. Eu sei que é bonito, mas não chorem nem se arrepiem.
    Falta contar a ponta final, a famosa descida até ao Luso, tocada pelo vento que tanto os incomodou a subir. O Rúben chegou aos sessenta nove quilómetros por hora. O Escrivão ainda fez melhor: sem esforço nenhum, apenas com o balanço de ir no encalço do Periglicófilo, atingiu o 64,7. E houve as natas no parque da Mealhada, o sol e a planificação de viagens à Costa Nova, Figueira da Foz, Caramulo e Serra da Estrela.
    Só mais um pormenor. O Paulinho não estava em cima da nespereira do padre São Marcos quando o Lenhador teve a brilhante resposta que ainda agora foi notícia, mas confirmou tê-la escalado algumas vezes para lhe comer os frutos. Contou, aliás, com grande divertimento, que uma vez quase foi apanhado em flagrante pelo sacristão. Ficou quieto e calado, estendido no tronco que lhe servia de assento e talvez com duas nêsperas na mão. Parece que estou a vê-lo.

     
  • nunorosmaninho 10:45 on 11/04/2015 Permalink | Responder  

    Interlúdio em cima de uma nespereira 

    A súbita aparição do senhor Vasconcelos trouxe-me à lembrança um facto antigo, passado em cima de uma frondosa nespereira do padre Manuel de São Marcos, em Tamengos. Havia pelo menos cinco miúdos encarrapitados a comer a fruta que não lhes pertencia. Não sei se se pode dizer que andavam a roubar. Lá estavam dois elementos das viagens cíclicas: o Escrivão e o Lenhador. Nessa ocasião, não apareceu o senhor Vasconcelos mas sim a senhora Laurinda que, muito triste, começou a contabilizar as crianças que assim tinham cedido a um pecado capital e desacatado um mandamento da lei de Deus. Pesarosa, foi identificando os miúdos um a um. Quase no fim, viu o Lenhador e a sua decepção não podia ser maior:
    – Também tu, Zé Luís?
    E o Lenhador, fino a reagir, encontrou a resposta memorável que nunca mais se dissolveu no imaginário local e que, a partir de agora, chegará a todo o mundo:
    – Eu?… Eu estou aqui, mas até nem gosto de nêsperas…

     
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