Melancias famosas – Costa Nova, 12 de Maio de 2024
Para chegarem à minha porta, o Hermínio saiu de Santa Luzia, quase em Coimbra, o Periglicófilo de Cantanhede e o Vendedor de Sepins. A manhã parda e fresca afastou os clientes das esplanadas da Costa Nova e deu-nos a oportunidade de escolher a mesa da pastelaria Atlântida.
Fiquei a saber que me enganei quando supus que os amigos tinham ido à Figueira da Foz pela Tocha. Para escaparem à monotonia das grandes rectas, preferiram deambular pelas povoações que seguem mais a direito a partir de Cantanhede. Também me inteirei de um magnífico plano por intermédio do qual o Vendedor me convenceu facilmente a realizar a longa jornada de Fátima, marcada para 25 de Julho. Reavivaram-se as intenções de regressar à Torreira, a Cedrim, ao Moinho do Pisco, a Mortágua e ao Caramulo. Lamentámos a degradação crescente da ciclovia do Dão. Como demorei a publicar as notas anteriores, o Vendedor perguntou se tinha desistido delas.
– É preciso ler as viagens mais antigas – prosseguiu o Vendedor, – Aqui há uns anos, andávamos todos os domingos, ainda que chovesse. Agora, basta sentirmos os borrifos de uma mangueira e ficamos logo em casa.
O Periglicófilo aludiu a tempos ainda mais remotos, quando éramos secundanistas de Letras e, no Verão, trabalhadores nas termas da Curia. Ao domingo, na companhia do Vendedor, doutorado na oficina de bicicletas e motorizadas do senhor Joaquim Pinto e de automóveis do Acácio, íamos passar o dia à praia da Figueira da Foz. Se isto aqui fosse uma conversa, o Vendedor falaria da melancia comprada no mercado e o Periglicófilo rememoraria a habilidade de ir com ela na bicicleta, sem mãos, lançando-a ao ar como num circo. A seguir, acudia-nos o engenho a equilibrar as longas cascas numa lata de sardinha. Ou seria de atum? O Periglicófilo é que se recorda de tudo.
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