As bicicletas na missa – Algures, 16 de Julho de 2023

            Saíram para a estrada, ao que sei, os três sportinguistas do grupo, que são também os principais candidatos à viagem a Fátima  no próximo fim-de-semana. Imagino que subiram o Buçaco para incrementar a preparação.

A essa hora, eu descansava dos quatro treinos  de  rolos, realizados durante a semana, e o meu pai, no seu posto de observação sobranceiro à igreja de Tamengos, concluía que toda a gente vai à missa de automóvel. Em menino, impressionava-me uma mulher, a que nesse tempo se chamaria velha, dobrada por doença de coluna, que vinha de Horta, distante coisa de dois ou três quilómetros, apoiada na  bengala. Voltava a casa pelo mesmo caminho, subindo o monte da Cabreira. A maioria dos fiéis católicos ia à missa a pé ou de bicicleta. As crianças mais ladinas deixavam-se ficar no adro a observá-las encostadas aos muros e, assim que se ouvia a voz do padre e o som do órgão, a experimentá-las.

– Só vêm duas pessoas à missa de bicicleta. A fulana, que mora no Choiso, e a tua tia Odete.

– Daqui a vinte anos, haverá muito mais.

Justifiquei a previsão com a sociologia, o bem-estar e o meio ambiente, embora estivesse apenas a formular um desejo que obtemperasse a decepção.