Já tive oportunidade de explicar que fracos é uma palavra infeliz para designar os ciclistas em início de carreira e que, mediante boas prestações, podiam passar à categoria dos consagrados e disputar com eles as corridas tuteladas pela União Velocipédica Portuguesa. Para um jovem corredor como o Manuel Rosmaninho, aliás, Maneco, disputar a prova dos fracos não é um estigma. Ele rondava os vinte anos, estava a começar e não sabia o que o futuro lhe traria. Eu próprio, que vou concatenado estes factos antigos, não sei o que aconteceu ao Maneco nos anos seguintes. O passado desconhecido aproxima-se singularmente do futuro por decifrar. Estou surpreendido por encontrar o avô Maneco na IV Volta ao Luso. Se o descobrisse na categoria dos fortes, ficaria matutando nos lapsos da história, mesmo quando esta é apenas familiar. O que se esquece nunca existiu.
Até o ver na Volta a Penela, pensava que o Maneco jamais havia sido ciclista oficial. Agora, com a IV Volta ao Luso, ei-lo que aparece numa disputa acerada com António Moreira (um do Sport, outro do União), reeditando os duelos Pires-Carreto e Prior-Rosmaninho.
– Ó senhor Escrivão, olhe que a corrida vai começar! Chegue-se aqui, depressa. – Lá estava o Anastácio na esquina onde, dezoito anos depois, haveria de nascer a majestosa colunata do edifício da Caixa Geral de Depósitos. – Vamos à boleia no carro de A Voz Desportiva.
Mal tive tempo de entrar. Ouve-se o sinal de partida. «Os corredores da categoria dos fracos estendem-se em fila pela Sofia fora. Em seguimento partem os carros de apoio.» E lá vamos nós também.
«Agora um, logo outro, vão-se encontrando os principiantes» que, como se lembram, tinham partido antes dos fracos.
«A estrada Porto-Lisboa seduz, muito lisa, brilhando ao sol forte.
Fornos, passo de nível aberto, não há impedimento. Obliquando à direita, enveredamos pela estrada da Pampilhosa.
[Manuel] Rosmaninho continua comandando a frente; [António] Moreira, vencedor da sua classe, atrasa-se uns minutos.
Souselas é passada num relance. Músicas, foguetes, aclamações!
Principia a íngreme subida de Larçã. Mais principiantes. Moreira lança-se com ardor na perseguição dos seus antagonistas.
Luso é descido a uma média de 50 à hora.
Passámos em Vila Nova de Monsarros como um sopro.
– À frente, quem vai? Respondem-nos: Rosmaninho!
Estamos próximo da Anadia.»
Aqui, tive de interromper o relato.
– «Da Anadia», senhor jornalista? Não sabe que se diz «de Anadia»?
Ele ignorou-me e prosseguiu sem se deter nas minúcias linguísticas. Fez bem, embora o assunto me pareça sério. Estamos próximos de Anadia, diria eu. «Muita gente, lindas pequenas, que saúdam com entusiasmo os corredores!
Uma surpresa. Um sinaleiro na praça da Anadia.»
– Outra vez, senhor jornalista? O sinaleiro estava na praça de Anadia, está bem?
«Belo trabalho! Faz inveja aos sinaleiros da nossa terra.
Subimos a Avenida. Morte à vista (quero dizer, uma camioneta fora de mão) numa curva!
Novamente estrada de Lisboa.
De Rosmaninho, nem sombras. No entanto, as médias feitas têm sido boas.
Faltam três quilómetros para a Mealhada. Enfim, o corredor rubro-preto. Moreira junta-se. Arrancam, passam Mealhada, Carqueijo, Sargento.Mor, e começa a descida, 30 a 40! Ora Moreira, ora Rosmaninho, esticam.
Os tripulantes dos carros de apoio entusiasmam os seus. Casal do Ferrão, começam a aparecer adeptos. Mais entusiasmo!
Na Estação Velha, Moreira anima-se e coloca-se à frente, e à frente, mas com pouca diferença, termina a prova!
O corredor azul e [Manuel] Rosmaninho foram dois valentes competidores. Ganhou Moreira, como poderia ter ganho Rosmaninho.»
topedrosa 14:16 on 31/12/2015 Permalink |
A sociedade por quotas dos Informáticos fechou para balanço em 19 de Dezembro. O sócio Ferroviário ficou-se pelos 6009 quilómetros por estrada e uma estimativa de 90 quilómetros no velódromo. A quantidade ofusca a velocidade média que ficou um pouco abaixo do ano anterior, o que pode ser explicado por mais subidas este ano. As composições ferroviárias não se dão muito bem com inclinações de 10% e mais …
Já agora, Escrivão, hodómetro ou odómetro. Vi que havia o grego hodós ao barulho, mas qual das grafias está correcta ? Ou à boa maneira portuguesa, vale tudo ?
nunorosmaninho 19:37 on 31/12/2015 Permalink |
Antes de usar a palavra, fiz a costumada triangulação pelo dicionário Houaiss, pelo dicionário da Academia e pelo sítio Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. As razões etimológicas aconselham, como bem mostras, a grafia com h. O que eu não queria era parecer entendido na matéria, nem gritar contra a libertinagem linguística. Poderíamos sempre escrever conta-quilómetros, se o desgraçado hífen não provocasse novas dúvidas na classe do AO90.
Rui Godinho 14:35 on 31/12/2015 Permalink |
Mas a manhã de 31 esteve mesmo boa pr o acerto de contas final, como adiante se comprovará.
Não pedem informações ao Borda d’Água!!!…
nunorosmaninho 15:39 on 01/01/2016 Permalink |
Na meteorologia, como sempre, errei.