Os hóspedes descansam, Joaquim Rosmaninho treina
A alegria do ciclismo e da imprensa desportiva de Coimbra diminuiu à medida que o Estado Novo crescia. Não vejam nisto é ódio político ao salazarismo. O livro com a história do ciclismo português, que o Leitor António ofereceu ao Escrivão, lembra que a Volta a Portugal não se realizou em 1936 e 1937. As épocas começavam na dúvida, prosseguiam na escassez e acabavam na miséria. Em 22 de Junho de 1937, o calendário oficial apontava corridas em Lisboa, Minho, Cascais e Espinho e a Porto-Lisboa. Na semana seguinte, previa-se uma prova de mil metros nas festas de S. João promovidas pela Câmara Municipal da Figueira da Foz. Compareceram nove corredores e ganhou Joaquim de Sousa, do Sporting. O mais comum, porém, eram os adiamentos, as prorrogações sem justificativa, talvez a desorganização ou o amadorismo desencantado.
Melhor faziam os hóspedes do Palace Hotel da Curia que se entretinham nos jantares à americana, nas conversas de jardim e nas gincanas automóveis. Quem queria saber de bicicletas quando podia admirar um Jaguar S.S., um BMW, um Mercedes, dois Lincoln, dois Buick, dois Graham, um Studbaker, um Terraplane e um Skoda? Ainda que os jornais locais lamentassem o marasmo da estância, os políticos e a sociedade abastada passeavam sob as longas áleas cobertas de roseiras, admiravam as banhistas na piscina, comentavam a guerra civil de Espanha e pronunciavam abrenúncios à ameaça comunista. Lá estava Henrique Tenreiro.
Joaquim Rosmaninho é que não tinha vida para estas vidas. O tempo mal dava para enxofrar as vinhas e regar o milho e as abóboras. O pouco que sobrava, roubava-o para andar de bicicleta. No dia 12 de Agosto, haveria o Circuito da Bairrada. Se eu não estivesse com pressa e isso não vos desinteressasse, faria um resumo das provas que, com vários nomes, decorreram na Curia, Anadia e Mealhada nos últimos dez anos. Assim, chamo apenas a atenção para o facto de nos estarmos a aproximar dos famosos circuitos no parque da Curia, disputados mais ou menos entre 1940 e os anos sessenta. O Circuito da Bairrada ainda não é este da Curia, mas Joaquim Rosmaninho, que em mais lado nenhum se apresentava, fazia questão de o disputar.
António Augusto 03:06 on 01/04/2018 Permalink |
Foram precisos 50 anos para eu aprender aqui o comprimento largura e altura do ciclismo na nossa (uma vez) grande terra.
Também agora melhor entender porque o Ti Joaquim passava com a esposa a pé e com a de corrida à mão.Nunca uma pasteleira creio agora que devia ser pecado para ele.
Quando só e a pedalar com a enchada às costas todo vergado no guiador eu perguntava ao meu mentor “avô” o poquê daquele sacrifício e ele dizia: ele era ciclista.
Oh….e aí o vizinho patrocinador menino então como eu dizia “o meu ti Quim tem lá uma nova embrulhada nos cobertores”
nunorosmaninho 23:11 on 01/04/2018 Permalink |
O seu comentário é-me muito grato porque confirma que, sem notícias dos factos, as pessoas esquecem os feitos dos homens, e quando os vêem velhos chegam a rir-se daquilo que pensam que nunca existiu.