Narrado pelo jornalista de Coimbra 

Estamos no II Giro do Minho. Domingo, 12 de Agosto de 1928, se não erro. Sigo no automóvel do Anastácio com o dever de relatar a prova, mas troquei essa obrigação pelo prazer de escutar a límpida narrativa do jornalista de Coimbra. Os ciclistas já saíram de Monte dos Burgos há uma hora. «O céu carrega-se de nuvens negras e a chuva começa a cair, miúda e branda, refrescando os homens e as coisas. É a aproximação do mar que se anuncia naquela mutação rápida de temperatura.
Os homens de Coimbra têm seguido sempre juntos no pelotão da frente, pedalando com firmeza que enche de confiança quem por eles vela.
No meio da estrada, em pane, depara-se-nos o velho Santiago, que Coimbra glorificou já, e que naquele momento se nos apresenta como o mais belo e comovedor exemplo do que é o verdadeiro amor ao desporto. Bom velhote!
Vila do Conde fica-nos já atrás, buliçosa e linda, recebendo envaidecida os beijos que o mar lhe dá.
Carreto arrasta agora, após si, em fila indiana o pelotão, já enfraquecido em número, dos primeiros, e a marcha é veloz por uma estrada lisa, onde os autos deslizam com uma suavidade que delicia.
À hora do banho surge-nos a Póvoa de Varzim, de ruas animadas e afagadas de sol, que reapareceu rijo e entorpecedor. Mulheres lindas, rostos alegres e corpos de sereia, saúdam com risos garotos a passagem dos autos de apoio, onde os tripulantes são figuras estranhas, cobertos duma densa camada amarelenta de poeira.»
Desculpem-me. Devo interromper aqui o traslado. O leitor, entontecido pelas belezas e pelo calor de Agosto, talvez pense que nada aconteceu no Minho. Não foi assim.